A leishmaniose visceral é um grave problema de saúde pública e que, anualmente, faz milhares de vítimas no mundo inteiro. Provoca uma infecção sistêmica capaz de atingir qualquer órgão devido à intensa propagação das células contaminadas através da corrente sanguínea. A confirmação do DNA de Leishmania sp. na saliva tem corroborado com o interesse de pesquisas sobre os efeitos da infecção provocada pelo parasita nas glândulas salivares. Mesmo com os intensos avanços, o conhecimento das alterações microestruturais da Leishmania infantum nas estruturas glandulares salivares ainda são escassas. Por isso, o objetivo desta pesquisa foi conduzir um estudo morfofisiológico das glândulas salivares de camundongos BALB/c infectados experimentalmente com L. infantum. A pesquisa foi aprovada pela Comissão de Ética no Uso de Animais, no 719/2022. Foram usados 24 camundongos BALB/c machos que foram divididos randomicamente em dois grupos, cada com 12 animais cada. No grupo experimental, cada camundongo foi inoculado, via intraperitoneal, com 1x106 promastigotas metacíclicas purificadas de L. infantum em PBS. No grupo controle, para simular a mesma situação de
estresse, administrou-se 50μl de PBS em cada animal. Após 7 e 50 dias, 6 animais de cada grupo foram eutanasiados para a coleta das amostras. Foram coletadas as glândulas salivares e, em seguida, foram submersas em solução para fixação. Estas amostras foram processadas histologicamente e coradas com hematoxilina e eosina para posteriores análises. O fígado e o baço também foram removidos, fixados, processados e corados histologicamente para confirmar a infecção. As lâminas contendo tecido salivar foram analisadas descritivamente e quantitativamente, esta através da histomorfometria. Os dados foram tabulados e analisados estatisticamente. As amostras glandulares também foram analisadas através da técnica de imuno-histoquímica, usando anticorpos anti BCl-2 e anti-Ki-67. Além disso, esse material foi submetido à técnica de PCR em tempo real. O modelo proposto no desenvolvimento da infecção foi eficaz, observando a presença de formas amastigotas da L. infantum e de alterações
características da infecção no fígado e no baço. As glândulas salivares apresentaram alterações microestruturais após a infecção experimental. Após 7 dias, foram identificados hiperemia, vacuolização citoplasmática, hipercelularidade de células acinares e ductais e alterações no tamanho dos ácinos. Após 50 dias, o tecido salivar apresentou perda da homogeneidade tecidual, regiões com intensa desordem celular e vacuolização citoplasmática. A glândula sublingual após a infecção apresentou um crescimento expressivo do volume acinar confirmado pela histomorfometria. Além disso, houve alteração na expressão de Ki-67 e BCL-2 nas glândulasanalisadas. Após 7 dias de infecção houve uma intensa imuno expressão de Ki-67, enquanto após 50 dias foi expressivo o de BCL-2. Não foi identificado a presença do DNA do parasito no tecido das glândulas analisadas. Sugerindo-se que as alterações ocorridas nos referidos órgãos se devem ao processo inflamatório sistêmico provocado pela infecção.