No Brasil os peixes são consumidos principalmente in natura, na forma de filé, em que o beneficiamento de espécies como a tilápia, na forma de apresentação de filés gera resíduos que representam entre 50 e 70% da matéria-prima, significando desperdício de alimentos e caracterizando um impacto ambiental. Os resíduos oriundos do beneficiamento da tilápia apresentam potencial para alimentação humana e animal, podendo ser processados para a obtenção de matéria-prima destinada à elaboração de coprodutos com valor agregado, dentre elas a carne mecanicamente separada (CMS), o surimi e as proteínas recuperadas da água residual de lavagem dos produtos. Neste contexto, a recuperação, reciclagem e o reaproveitamento dos resíduos gerados durante o beneficiamento de pescado podem ser utilizados para desenvolvimento de diversos produtos, em que a indústria de alimentos tem como desafio a produção de alimentos processados com valor nutricional adicional, que possua propriedades acessíveis e boa característica sensorial, e a utilização de resíduos de peixes, além de aplicar o conceito de sustentabilidade na produção, é uma opção para reduzir os custos, com elaboração de novos produtos, e consequentemente reduzir os resíduos orgânicos no meio ambiente. Por esse cenário, objetiva-se avaliar se resíduos da filetagem de tilápias do Nilo (Oreochromis niloticus) e proteínas solúveis recuperadas da água residual do preparo de surimi podem ser utilizados na elaboração de coprodutos alimentares. As carcaças de tilápia foram adquiridas em estabelecimentos beneficiadores de peixe na cidade de Teresina/PI, e a partir disso, através do uso de despolpadeira de peixe, foi obtida a CMS, cuja posterior lavagem foi realizada para obtenção do surimi e coleta da água residual, para a recuperação de proteínas desse conteúdo. A recuperação foi realizada utilizando a adição de ácidos orgânicos (acético, ascórbico, cítrico e tartárico), em quatro concentrações (25, 50, 75 e 100%) e aquecimento à 92°C. Foram avaliados os parâmetros: pH, rendimento e teor de proteínas, para a determinação do ácido orgânico mais eficiente na recuperação de proteínas, que se apresentou com o ácido tartárico a 75%, com pH de 4,87, rendimento de 3,28% e teor proteico de 10,74%. O precipitado proteico recuperado seguirá para a aplicação de metodologia de conservação de alimentos, através de secagem e posteriormente, será utilizado como ingrediente no desenvolvimento de coprodutos, sendo adicionado aos resíduos primariamente recuperados das carcaças de peixes (CMS e surimi). A utilização de resíduos na elaboração de produtos contribui para a diminuição de problemas atribuídos à deficiência de proteína de elevado valor nutricional na dieta alimentar, além de reduzir os impactos negativos da atividade industrial ao meio ambiente.