Mulheres negras integram um grupo historicamente explorado localizado na base da pirâmide social e vivenciam opressões singulares de gênero e raça. Uma parcela desse grupo também lida com questões de classe em que ocupam cargos de baixo prestígio social, tal qual as empregadas domésticas, que são cotidianamente subjugadas em razão de tal conjunto de vulnerabilidades, que ficou academicamente conhecido como “interseccionalidade”. O objetivo dessa pesquisa é analisar as vivências de mulheres negras empregadas domésticas na cidade de Teresina-PI durante a primeira fase do isolamento na pandemia da COVID-19. O estudo consiste em uma pesquisa de abordagem qualitativa básica que se utilizou da técnica “entrevista em profundidade” para acessar informações sobre a trajetória das participantes, empregadas domésticas negras, a serem analisadas através do método interseccional. A partir da interpretação dos dados coletados, o estudo concluiu que apenas o valor oferecido pelo auxílio emergencial não foi o suficiente para garantir o isolamento das participantes, posto que tal medida refletiria no padrão de vida das participantes e suas famílias, suscitando a discussão sobre a insegurança laboral inerente à majoritária informalidade das relações laborais referentes ao emprego doméstico. A pesquisa também revelou que, para além de fatores econômicos, outras variáveis também influenciaram na decisão dessas mulheres de permanecerem nos seus postos de trabalho, tal como a reprodução de hierarquias sociais, ainda presente nos contratos de prestação de serviços domésticos. Nesse viés, o estudo, além de aprofundar a discussão acerca da interseccionalidade, desvela a história de vida de mulheres marcadas pelas manifestações de estruturas sociais que moldaram a formação do Estado brasileiro.