A pesquisa analisou as novas determinações da produção e reprodução da Agricultura Familiar em União-PI frente a dinâmica do agronegócio da cana, no que tange às relações de trabalho, ao uso e ocupação da terra e a questão socioambiental. Realizada a partir de uma perspectiva teórico-metodológica assentada no materialismo histórico dialético, a pesquisa analisou o universo de tensões e relações produzidas na convivência dos agricultores com as dinâmicas do capital. Foram utilizadas diferentes técnicas e fontes de dados: análise documental (IBGE, IPEA, BACEN, DIESSE e do DATALUTA); análise bibliográfica; aplicação de questionários junto a agricultores(as) familiares; observação; e entrevistas semiestruturadas com agricultores(as), lideranças sindicais e com um técnico de órgão público estadual. Os resultados da pesquisa indicaram que: a) há distintas lógicas de produção e reprodução da agricultura familiar em União, indicando tensões na vida no campo em face da hegemonia de formas produtivas ligadas ao “negócio da cana” que desde os anos 1980 marca a realidade econômica e social do município de União; b) sendo o município historicamente marcado pela pobreza rural e de presença expressiva de uma agricultura voltada para a provisão familiar, hoje essa agricultura é interpelada pelo “negócio da cana”, de forma a ressignificar suas atividades de trabalho e a relação com a terra, apresentando uma composição mais heterogênea desses trabalhadores - pequenos proprietários, trabalhadores sem-terra, assentados, arrendatários, parceiros, ocupantes e assalariados -, estes últimos, buscando o assalariamento nas empresas que servem ao agronegócio; c) há uma significativa diminuição da resistência e combatividade dos agricultores familiares na luta pela reforma agrária, registrando-se também um baixo acesso às políticas públicas, especialmente de políticas estruturantes como o Pronaf (Política de Crédito) e o PAA (Política de Segurança Alimentar e Nutricional); d) trata-se de um território marcado pelos efeitos deletérios de práticas danosas ao meio ambiente (desmatamento, queimadas, uso intensivo de agrotóxicos etc.), em particular, ações do agronegócio, embora não somente circunscrita a ele, o que vem gerando indisponibilidade hídrica, morte de animais silvestres, danos ao solo, poluição atmosférica, entre outros; e) A inserção dos agricultores nas atividades produtivas do agronegócio gera efeitos controversos na produção e reprodução familiar de várias formas, seja reduzindo as áreas de plantios das culturas de subsistências, seja, em contrapartida, aumentando as áreas arrendadas para o agronegócio; f) o acesso à terra ainda não está assegurado a todos os agricultores, apresentando o município uma realidade fundiária de concentração da propriedade; g) A aquisição, pelo agronegócio, de terras que já são ocupadas por agricultores tem gerado o crescimento de conflitos de terras envolvendo famílias moradoras/agregadas, sem a posse legal das terras, embora sendo delas que retiram o sustento; h) o trabalho assalariado é marcado por condições precárias: vínculos de trabalho predominantemente temporário, terceirização da mão de obra, informalidade, baixa remuneração e baixa proteção social, indicando todos esses achados o contexto de tensão e subalternidade da agricultura familiar fortemente tencionada em União pela ação do agronegócio da cana