O tema central desta investigação é o trabalho em saúde desenvolvido no contexto de crise sanitária gerada pela pandemia da Covid-19, analisado na perspectiva dos atores que protagonizaram a assistência à população no âmbito dos serviços públicos de atenção à saúde. Para tanto, lançar-se-á o olhar sobre o cotidiano dessa experiência, partindo do entendimento do cotidiano do trabalho em saúde como terreno dos processos concretos das ações e serviços, no qual se opera a produção e cristalização dos modelos de atenção à saúde e onde se realizam as possibilidades de transformações em direção a novos modos de fazer saúde em consonância com as reais necessidades de saúde dos usuários (Merhy, 1999). Considerando que a historicidade dos elementos que compõem o processo de trabalho em saúde situa tal atividade na totalidade das práticas sociais, dotando-a de um estatuto social, político e econômico, entende-se que a produção do cuidado em saúde é marcada pelas relações estabelecidas com o conjunto dos meios de produção, estando sujeita à dinâmica das relações de classe na sociedade como um todo. Portanto, a análise do trabalho em saúde, nesses termos, considera sua sujeição aos imperativos de acumulação do modo de produção capitalista e, como consequência, às crises que afetam o conjunto da ordem do capital e expressam sua dinâmica necessariamente contraditória que termina por produzir transformações periódicas nos meios de produção, estabelecendo novos regimes produtivos.