O presente estudo analisa a tomada de decisões de gestores municipais no Piauí acerca das políticas públicas de educação em meio à pandemia da Covid-19 em 2020. Focando nas redes municipais de ensino de até 4.000 alunos - que compõem 89% dos municípios do Piauí e 63% do Brasil -, o estudo busca entender como as habilidades analíticas, operacionais e políticas determinaram a decisão de oferecer atividades pedagógicas remotas nos níveis individual, organizacional e sistêmico. A amostra engloba municípios que adotaram e que não adotaram atividades remotas, demonstrando assim divergências decisórias. O estudo levou em conta variáveis como tamanho da rede de ensino, contribuição do FPM, nota do Ideb, faixa do IDHM e vinculação ao Sistema Estadual de Ensino. Dentre os municípios pesquisados, constatou-se que nem todos ofereceram atividades remotas e que houve variação na data de início e nas estratégias adotadas, pergunta-se: que capacidades estatais – nos níveis individual, organizacional e sistêmico – estiveram presentes nas decisões dos municípios piauienses sobre atividades pedagógicas remotas durante a pandemia? No universo da gestão educacional municipal, quais componentes mostraram-se mais presentes para o sucesso ou falha nas respostas educativas à crise da Covid-19? Considerando a falha estratégica do MEC, como os municípios piauienses conseguiram, com base em suas capacidades, reorganizar suas políticas e práticas educacionais em resposta à pandemia? Como o contexto local, as capacidades institucionais e as prioridades políticas dos municípios piauienses determinaram as decisões sobre a oferta ou não de atividades pedagógicas remotas? Para responder às perguntas centrais de pesquisa, foram utilizados o modelo reflexivo de análise de causa e efeito entre capacidade estatal e indicadores proposto por Wu e outros (2015), e uma abordagem combinada de análise quantitativa e qualitativa. As análises quantitativas iniciais revelaram discrepâncias pouco significativas entre os clusters de municípios piauienses, indicando que as disparidades nos recursos municipais não explicaram as diferenças nas capacidades administrativas dos municípios. A análise qualitativa das capacidades estatais municipais na tomada de decisão sobre atividades pedagógicas remotas durante a pandemia revelou padrões e tendências significativas. A capacidade política, tanto no nível individual quanto organizacional, mostrouse preponderante nas decisões dos gestores municipais. A combinação sinérgica das capacidades política individual e política organizacional permitiu aos gestores enfrentar os desafios decorrentes da suspensão das aulas presenciais e tomar decisões mais embasadas em evidências e contextos políticos. Por outro lado, as capacidades analítica e operacional, tanto no nível individual quanto sistêmico, apresentaram coocorrências menos frequentes ou nulas, indicando que a perspectiva sistêmica e as habilidades analíticas nos níveis individual e organizacional foram pouco significativas na tomada de decisão sobre o oferecimento de atividades pedagógicas remotas. Assim, constatou-se a predominância da capacidade política em decisões municipais sobre educação durante a Covid-19 no Piauí. A pesquisa ilustra a complexidade do federalismo brasileiro e enfatiza a necessidade de estudos adicionais para uma compreensão holística da gestão educacional em crises.