O feijão-fava (Phaseolus lunatus) representa uma ótima fonte de proteína vegetal sendo uma das leguminosas mais utilizadas para a alimentação da população da região Nordeste do Brasil, onde apresenta forte relevância social e econômica. Por ser uma zona de convergência entre centros de domesticação, encontra-se no Brasil grande diversidade morfológica e molecular do feijão-fava. Apesar disso, devido a devido a pressões de mercado, tem-se observado a homogeneização dos cultivos, e a mudanças nas práticas agrícolas. Cenários como este podem levar a eventos de erosão genética da espécie no país. Contudo, são poucos trabalhos realizados com o intuído de avaliar os níveis de diversidade genética do feijão-fava no Brasil. Assim, o objetivo desse trabalho foi caracterizar a diversidade e estrutura genética de 42 genótipos de feijão-fava coletados em 2016 no Nordeste do Brasil, e comparar os níveis de diversidade genética encontrados em 12 genótipos coletados em 1980 com a finalidade de estimar a ocorrência da erosão genética ao longo do tempo, utilizando oito loci de microssatélites. Além disso foi realizado o estudo da riqueza de variedades e a caracterização do produtor e do manejo do feijão-fava. Os índices de diversidade totais foram obtidos a partir da análise não hierárquica de todos os genótipos analisados de feijão-fava. A análise de estrutura genética realizada pelo software Structure mostrou que os 42 genótipos de 2016 formaram dois grupos (k=2). Para a estimativa da erosão genética foram realizadas comparações entre os índices de diversidade dos grupos temporais 2016 e 1980, além da estimativa da erosão usando o índice de Garza-Williamson e o software Bottleneck. A riqueza de variedades tradicionais e caracterização dos agricultores e do manejo utilizado foram obtidas por meio da realização de entrevistas semiestruturadas com os agricultores. Como resultado observou-se que os valores de heterozigosidade observada (Ho) foram inferiores aos da heterozigosidade esperada (He) para a maioria dos genótipos, indicando deficiência de heterozigotos com relação ao Equilíbrio de Hardy-Weinberg. A He variou de 0,144 a 0,47, evidenciado a existência de ampla diversidade genética em feijão-fava cultivado no Brasil. Os valores do índice Garza-Williamson foram abaixo de 0,68, para os genótipos coletados em 1980 e 2016, indicando que os genótipos pertencentes a esses grupos podem ter sofrido um gargalo genético recente. Entretanto, quando se fez a comparação de entre os valores de He de 1980 e 2016 pôde-se observar um aumento nos níveis de diversidade genética do período de 2016 com relação a 1980, o que pode ser um indicativo da recuperação do referido gargalo. As análises realizadas no software Bottleneck sugeriram a ocorrência de gargalo nos genótipos coletados em 2016, segundo o modelo mutacional IAM.Esses resultados corroboram com o que foi observado pelos agricultores, que no passado cultivavam uma maior variedade de feijão-fava, mas que, devido à preferência do mercado, atualmente cultivam apenas uma ou no máximo três variedades. Estes resultados servirão de base para futuros programas de melhoramento genético da espécie no mundo, mas principalmente no Brasil, tendo em vista que no país ainda não existem genótipos melhorados que atendam a demanda dos produtores.