O presente estudo é uma etnografia realizada na região denominada “entorno da Rua Paissandu” com mulheres prostitutas cisgênero em Teresina – PI. Como complemento aos dados coletados foi realizado uma breve análise das autobiografias de três mulheres que atuaram como prostitutas e alcançaram certa fama no cenário nacional (Bruna Surfistinha – Raquel Pacheco; Gabriela Leite e Lola Benvenutti). Neste sentido a pesquisa ocorreu a partir de três frentes diferentes e conexas entre si: a) aplicação de quatro entrevistas semiestruturadas com mulheres (BEAUD & WEBER, 2014) e uma pesquisa de campo com duração de uma semana em outubro de 2017; b) incursão e pesquisa de campo de janeiro ao final de março de 2020 na região denominada como entorno da Paissandu. Tradicional zona do meretrício teresinense; c) breve análise antropológica das autobiografias supracitadas. A partir dessas três frentes foi construída uma etnografia que demonstra os enlaces entre família, gênero, trabalho e poder. Posterior ao momento de percepção de tais enlaces analiso como os múltiplos conflitos familiais e de poder produzem mulheres prostitutas, e, como estas, produzem casas de forma constante durante sua atuação no trabalho sexual. Em suma, foi feito um imbricamento entre narrativas de vida e pesquisa etnográfica conforme apregoa Kofes (2015) e Dias (2015). Como base teórica esta pesquisa utiliza autores do campo da antropologia pós-social: Marilyn Strathern (2017) e Roy Wagner (2017). Autores da Antropologia da Política: Edmund Leach (2014), Edward Evan-Evans Pritchard (2011) e Meyer Fortes (2001) dentre outros referenciais. Teóricas dos estudos de gênero e feminismos: Marilyn Strathern (2006), Raewyn Connell (2015;2016), Lélia Gonzalez (1985), Adriana Piscitelli (2005; 2008), Joan Scott (1995; 2012) dentre outras. No processo de feitura da dissertação realizei uma trilha que parte de uma construção modelos idealizados das noções de prostituição. A construção dos modelos foi realizada através do diálogo com Leach (2014) e pesquisas históricas. Tais modelos acabam sendo um ponto de referencial para os atores em suas relações sociais, mas também para o antropólogo. Em um segundo momento desvelo as falas e sociabilidades produzidas espontaneamente pelos sujeitos no entorno da Paissandu. Por fim, a pesquisa desemboca nas narrativas e biografias das mulheres entrevistadas. Essa trilha textual aponta como as interlocutoras produzem casas nos deslocamentos exercidos no trabalho prostitucional. As socialidades em que mulheres prostitutas estão inseridas produzem casas hierarquicamente porosas e flexíveis. Tais casas não são isoladas, mas sim, interconectadas mantendo comunicações entre si.