A hanseníase é uma doença infectocontagiosa, crônica e granulomatosa, de evolução lenta, que se manifesta através de sinais e sintomas dermato-neurológicos. Em 2015, de todos os 28.806 casos novos de hanseníase detectados nas Américas, 26.395 ocorreram no Brasil (91,63%), o que representa 12,52% de todos os casos novos registrados pela Organização Mundial de Saúde no mundo. O Brasil apresenta uma distribuição territorial heterogênea da doença, com predominância nas regiões norte, nordeste e centro-oeste. Conforme dados de 2016, o Piauí ocupa a 6ª colocação do país, com coeficiente de prevalência de 2,4 casos/10mil habitantes, sendo Teresina uma cidade hiperendêmica. Este estudo teve como objetivo avaliar o desempenho da atenção primária à saúde em hanseníase na cidade de Teresina na perspectiva dos usuários e profissionais dos serviços. Trata-se de um estudo de campo transversal, com abordagem descritiva, e natureza quantitativa. A população do estudo foi constituída por 59 participantes, sendo 25 usuários com diagnóstico de hanseníase e 34 profissionais (médicos e enfermeiros) responsáveis pelo tratamento nas unidades básicas de saúde da zona urbana de Teresina. A coleta de dados ocorreu no período de janeiro a junho de 2017 mediante a aplicação do “Instrumento de Avaliação do Desempenho da Atenção Primária nas Ações de Controle da Hanseníase” baseado no Primary Care Assessment Tool - PCATool Brasil, que mede a presença e a extensão dos atributos essenciais e derivados da atenção primária. Neste instrumento, os escores médios acima de 6,6 correspondem à alta orientação dos serviços para a realização das ações de controle da hanseníase. Na análise estatística foram aplicados os testes U de Mann-Whitney, Kruskal-Wallis e Exato de Fisher, buscando-se a existência de associação entre as variáveis do estudo e a percepção da qualidade da atenção primária à saúde em hanseníase. Estimou-se significância de 5%, nível de confiança de 95%, com p < 0,05. Os dados foram analisados no programa SPSS for Windows® versão 20.0 e no Software R versão 3.4.0. Os resultados revelaram que o perfil socioeconômico e epidemiológico dos usuários foi caracterizado por indivíduos acima de 50 anos, do sexo masculino, casados ou em união estável, com baixa renda e escolaridade, predomínio das formas clínicas multibacilares e elevado percentual de incapacidade física no diagnóstico. Quanto ao perfil dos profissionais e suas condutas clínicas, ressalta-se que, embora apresentassem alta escolaridade e experiência na atenção primária e nas ações de controle da hanseníase, demonstraram nem sempre por em prática as atitudes necessárias ao diagnóstico e tratamento da doença. Quanto à percepção dos usuários sobre a qualidade da atenção, verificou-se que a média dos escores essencial, derivado e geral foi menor que 6,6, indicando que os serviços em atenção primária da zona urbana de Teresina-PI não são suficientemente orientados para a realização das ações de controle da hanseníase, com atenção especial para os atributos: acesso, integralidade dos serviços prestados, orientação familiar e orientação comunitária. A percepção dos profissionais, no entanto, foi diferente, com todos os atributos e escores desse grupo apresentando-se superiores a 6,6. Resultados discrepantes entre usuários e profissionais de saúde são relatados com frequência na literatura. Porém, a avaliação da qualidade da atenção no geral não foi influenciada por variáveis clínicas ou socioeconômicas dos usuários, e sim pela organização/prestação dos serviços. Os achados indicam que os serviços precisam estar mais fortemente orientados pelos atributos da atenção primária à saúde para atingirem altos níveis de satisfação dos usuários. Espera-se que este estudo possa contribuir para o desenvolvimento de políticas que garantam maior efetividade no combate à hanseníase.