O metabolismo e o transporte reverso do colesterol extracelular em humanos são realizados pela enzima lecitina colesterol aciltransferase (LCAT). Essa proteína é codificada pelo gene GRCh37.p13 de seis éxons localizado no braço longo do cromossomo 16 (16q22). Já foram relatadas cerca de 90 mutações, que resultam em perda de atividade funcional da LCAT. A manifestação fenotípica de tal deficiência se dá pelos sinais patognomônicos de duas patologias: síndrome do olho do peixe (FED) e deficiência familiar de LCAT (FLD). Embora seja considerada uma condição rara (prevalência mundial < 1:1.000.000), foram identificadas cinco famílias distintas, em um total de 67 indivíduos portadores de mutação neste gene, todas residentes no estado do Piauí. Porque esta é uma frequência relativamente alta para uma região, começamos a estudar essas famílias com o objetivo de caracterizá-las molecularmente e investigar o grau de parentesco entre elas por meio de marcadores genéticos. Para tanto, casos índices e seus familiares foram convidados a participar do estudo por meio da doação de 5ml de sangue periférico, obtido por punção venosa. Tais células foram utilizadas para a extração de DNA e submetidas a protocolos de sequenciamento para determinação de mutações no gene GRCh37.p13 bem como para a comparação de conjunto de microssatélites de regiões polimórficas do genoma. As análises dos heredogramas das cinco famílias confirmam o caráter autossômico recessivo raro da deficiência de LCAT. Além disso, os testes de endogamia revelaram que, se existe alguma relação com o processo de endogamia, esta não ocorreu de forma reincidente nas últimas gerações e nem foi um fator comum para todas as famílias estudadas. Apesar disso, contudo, a estimativa de parentesco médio nas famílias foi superior ao encontrado no grupo controle, como mostrado pela análise de similaridade genética. No entanto, ao agrupar as famílias em um mesmo cluster para determinar o grau de parentesco, o resultado indica que se houver parentesco, este não é tão expressivo. Além disso, nas análises das distâncias genéticas foi interessante observar que as famílias F1, F2, F3 e F5 são descendentes de um ramo principal. Não é possível confirmar a existência de um efeito fundador, mas é possível que isso possa ter ocorrido há um tempo atrás restringindo a variabilidade genética. A análise Minimal Spanning Network demonstrou um possível parentesco entre as famílias F2, F3 e F5. Por fim, a análise Bayesiana corrobora com os outros testes realizados de comparação genética. Os resultados indicam a hipótese de um possível efeito fundador entre os participantes caso do presente trabalho, sugerindo um certo grau de parentesco entre os mesmos. Além disso, diversos estudos relacionam a proximidade geográfica, bem como casamentos entre indivíduos da mesma região como um fator importante para a ocorrência da baixa variabilidade genética.