INTRODUÇÃO: Instituições hospitalares devem apresentar cultura organizacional que fortaleça a cultura de segurança do paciente e minimize erros, como a omissão dos cuidados de enfermagem. OBJETIVOS: Avaliar o poder preditivo dos valores organizacionais sobre a omissão dos cuidados de enfermagem em um hospital universitário. METODOLOGIA: Pesquisa multimétodos, desenvolvida em um hospital universitário do nordeste do Brasil, mediante dois subestudos, com coleta de dados no período de novembro/2019 a fevereiro/2020. O primeiro foi um desenho metodológico, no qual foram realizadas as análises teórica e empírica da Escala de Valores Organizacionais com base na Teoria de Valores Culturais de Schwartz no contexto do hospital universitário, com amostras de conveniência formadas por 15 enfermeiros e técnicos de enfermagem (análise semântica), nove especialistas em gestão hospitalar/administração em enfermagem (análise de juízes) e 263 enfermeiros e técnicos de enfermagem (análise fatorial). Os dados foram analisados por meio de Escalonamento Multidimensional e Análises Fatoriais. No segundo subestudo, foi conduzido um delineamento transversal analítico, com amostra de conveniência de 227 enfermeiros e técnicos de enfermagem. Foram utilizados o MISSCAREBrasil e a versão da escala de valores organizacionais obtida no primeiro subestudo. Foram realizadas análises bivariadas e regressão hierárquica. O estudo foi aprovado por Comitê de Ética em Pesquisa. RESULTADOS: No primeiro subestudo, a análise semântica proporcionou alterações para termos mais próximos do contexto do público-alvo, que foram endossadas pelos especialistas. A análise fatorial confirmatória para os modelos de seis (nível cultural) e quatro (nível individual) fatores não demonstrou boas medidas de ajustes. Os dados da análise fatorial exploratória corroboraram com a teoria refinada de Schwartz, formando os fatores Crescimento e Autoproteção. No segundo subestudo, a amostra teve maioria do sexo feminino (81,9%) e alto nível de formação, com enfermeiros pós-graduados (94,9%) e técnicos de enfermagem graduados/pósgraduados (69,6%). A prevalência geral de omissão de cuidados foi de (44,9%). O cuidado mais omitido foi deambulação (70,9%). Na análise bivariada, setor/unidade (p<0,001) foi associado à omissão de cuidados. As correlações entre os valores organizacionais e a omissão de cuidados, isoladamente, foram fracas, com coeficientes variando de −0,138 (Cordialidade entre os colaboradores e Ser referência na área de atuação) a −0,228 (Autonomia dos colaboradores) no fator Crescimento. No fator Autoproteção, uma correlação foi verificada, com coeficiente 0,136 (Centralização das decisões). O modelo de regressão hierárquica mostrou que variáveis demográficas e ocupacionais explicaram 48,4% da variância da omissão de cuidados, aumentando 3,1% com a inclusão de variáveis de satisfação (p=0,061) e 2,3% com as razões de omissão (p=0,322). No quarto e último passo, os valores organizacionais proporcionaram um aumento significativo de 11,5% na explicação da variância (p<0,001). As variáveis preditoras no modelo final foram: unidade/setor, sexo, período de trabalho, turno, satisfação com o cargo e o fator Crescimento. CONCLUSÃO: A Escala de Valores Organizacionais para o hospital universitário apresentou estrutura fatorial que corrobora com o modelo refinado de valores de Schwartz, com medidas de consistência interna satisfatórias. Os valores organizacionais, em especial do fator Crescimento, predizem a omissão de cuidados de enfermagem.