INTRODUÇÃO: O controle da hanseníase evoluiu nas últimas décadas com a disponibilidade e o livre acesso à poliquimioterapia, além da implementação de estratégias de controle nos sistemas nacionais de saúde, colaboração entre parceiros e maior compromisso político de países, onde a doença é endêmica. Entretanto, apesar de todo esse conjunto de esforços, a doença ainda persiste como importante problema de saúde pública, expresso pelo aparecimento de novos casos. A despeito da recomendação prioritária de avaliação dermatoneurológica qualificada de contatos, para detecção de casos novos e enfrentamento da doença, com o intuito de interromper a transmissão e evitar diagnóstico tardio, estudos têm demonstrado que esta ação não tem sido realizada de forma sistemática e qualificada. OBJETIVO: Analisar os fatores associados ao desempenho da vigilância de contatos de casos de hanseníase residentes nos municípios de Floriano e Picos, Estado do Piauí. MÉTODO: Estudo transversal analítico no qual buscou-se abordar toda a população diagnosticada com hanseníase residente em ambos os municípios durante o período de 2001 a 2014 e incluídas no SINAN. Foram avaliados 619 casos referência, dos quais 310 tiveram 670 contatos intradomiciliares avaliados e foram incluídos nesta pesquisa. Para analisar o desempenho das ações de vigilância dos contatos foi utilizado o Escore IntegraHans. Quando escore foi pontuado no intervalo 0-6, foi considerado ruim, quando entre 7-14, regular, e entre 15-21, ótimo. Foi ultizado o programa Epi-Info™, versão 7.1.3 para digitação e qualificação da base de dados e o software Statistical Package for the Social Science (SPSS) versão 20.0 para as análises estatísticas. Foram realizadas análises univariadas e para as bivariadas foi utilizado o teste Qui-quadrado ou Exato de Fischer. As variáveis que na análise bivariada apresentaram valor de p < 0,20 foram submetidas à regressão logística. RESULTADOS: Adultos do sexo feminino, negros ou pardos, com apenas ensino fundamental, renda individual e familiar de um a dois salários mínimos e residentes em zona urbana foram as características sociodemográficas que mais predominaram, havendo mais casados entres os casos referência (55,48%) e mais solteiros entre os contatos (49,85%). Foi observado maior número de Paucibacilares (54,19%), forma clínica Indeterminada (37,42%) e grau de incapacidade zero (76,13%) no diagnóstico dos casos referência. Tanto a suspeição quanto o diagnóstico foram realizados na maioria das vezes em serviços de referência. A maioria dos contatos intradomiciliares (62,24%) não realizaram exame dermatoneurológico, 49,85% foram orientados sobre BCG, 47,16% vacinados, 34,18% orientados a chamar outros contatos para avaliação e apenas 16,12% receberam orientação para retornar à unidade de saúde para novas avaliações e o Escore IntegraHans foi classificado como ruim para 62,84% dos contatos. O caso referência ter ensino fundamental aumenta as chances do desempenho da vigilância ser regular e ser casado aumenta as chances de desempenho ótimo para vigilância. CONCLUSÃO: As condições sociais apresentadas pelos casos referência apresentaram influência o desempenho da vigilância de contatos intradomiciliares. Isto reflete a importância de uma abordagem diferenciada para os casos de hanseníase já que todo o plano terapêutico e vigilância epidemiológica dependem do entendimento das informações recebidas e autorização para abordagem familiar.