Introdução: O pé diabético é caracterizado pela presença de infecção, ulceração e/ou destruição de tecidos profundos, sendo associado às anormalidades neurológicas e à doença vascular periférica. Assim, o rastreamento consiste no levantamento dos fatores de risco e a monitorização é uma forma de seguimento. Objetivo: Avaliar o rastreamento e a monitorização do pé diabético na Atenção Primária à Saúde. Método: Estudo observacional, analítico e transversal realizado em Teresina, no âmbito da Atenção Primária à Saúde. A população foi constituída de 2.000 pacientes com diabetes mellitus cadastrados no Programa Hiperdia, contando com amostra de 322 participantes. A amostragem foi não probabilística por conveniência. A coleta de dados ocorreu nos meses de fevereiro a agosto de 2019, em três etapas: entrevista, exame clínico dos pés e monitorização, e consulta do prontuário. Os dados foram tabulados no Microsoft Excel 2013 e processados no SPSS versão 22.0. Realizaram-se estatísticas descritiva e inferencial, mediante os seguintes testes estatísticos bivariados: Mann-Whitney, Kruskall-Wallis e Qui quadrado de Pearson. A força de associação entre as variáveis categóricas foi aferida pelo Odds Ratio (OR) com intervalos de confiança de 95%. Consideraram-se significativos os valores de p<0,05. Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Piauí, com parecer n° 2.817.426. Resultados: A maioria dos participantes era idoso (57,1%), sexo feminino (70,2%), pardo (70,2%), com companheiro (62,4%), aposentado (33,2%), com ensino fundamental incompleto (44,4%) e renda de um salário mínimo (64%). Prevaleceram o diabetes tipo 2 (94,4%), uso de hipoglicemiantes orais (86%), controle glicêmico inadequado (51,9%), dislipidemia (66,1%) e hipertensão arterial (72%). 49,4% sentiam dormência nas pernas e/ou pés, dor em queimação (42,9%), câimbras (59%), fraqueza (34,5%) e pele seca (66,1%). O pé direito apresentou mais anormalidade (68,9%), sendo a pele seca e/ou calosidades as complicações mais comuns (57,1%) e 1,9% tinham úlcera. No pé esquerdo, 42,9% apresentaram ausência na percepção de vibração ao diapasão de 128 Hz. Já no direito 8,1% tiveram ausência de sensibilidade protetora plantar ao monofilamento de 10 g. 86,3% nunca foram submetidos ao exame clínico dos pés, 59% apresentaram neuropatia diabética, 3,1% pé diabético, 69,6% risco de pé diabético e 57,8% não receberam qualquer tipo de monitorização. A idade (p=0,046), situação conjugal (p=0,041), tempo de diagnóstico do diabetes (p<0,001) e escolaridade (p=0,008) apresentaram significância estatística para o risco de pé diabético. O rastreamento se mostrou fator de proteção para o risco de pé diabético (p=0,048; OR:0,52; IC:0,27-0,90). O controle glicêmico inadequado (OR:3,47; IC:2,11-5,70), a indisposição para cuidar dos pés (OR:3,45; IC:1,73-6,87), o corte das unhas de forma não quadrada (OR:1,88; IC:1,16-3,07) e a não utilização de hidratante (OR:2,16; IC:1,33-3,50) aumentam as chances para o risco de pé diabético. Conclusão: Os aspectos sociodemográficos, clínicos e o autocuidado interferem no risco de pé diabético. Apesar da maioria dos pacientes com diabetes apresentarem risco de pé diabético, a maior parte não era submetida ao rastreamento e à monitorização. Além disso, o rastreamento foi fator de proteção, o que destaca a importância dessa prática na assistência de enfermagem aos pacientes com diabetes.