INTRODUÇÃO: A hanseníase é uma doença dermatoneurológica que afeta primariamente os nervos periféricos e a pele, como também pode acometer outros órgãos de forma sistêmica, produzindo sequelas e incapacidades. OBJETIVO: analisar fatores associados à prática de autocuidado de pessoas com hanseníase na Atenção Primária à Saúde em um município do Piauí. MÉTODO: Estudo transversal desenvolvido nas Unidades Básicas de Saúde e Equipe de Saúde no Sistema Prisional de um município piauiense, com o universo de casos de hanseníase notificados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), no período de janeiro de 2019 a dezembro de 2023 (N=133). A coleta de dados ocorreu de outubro a dezembro de 2023, por meio da aplicação de um formulário, previamente validado, bem como a partir de dados secundários obtidos do SINAN. Os dados foram analisados com o uso do software Statistical Package for Social Science (SPSS) versão 26.0. Na análise descritiva foram utilizadas distribuição de frequências e medidas de posição e dispersão. Para estudar a associação entre as variáveis categóricas e a variável dependente utilizou-se o teste quiquadrado com correção de Yates e exato de Fisher. No estudo das práticas de autocuidado, como variável resposta aplicou-se a análise de regressão logística, buscando explicar quais fatores estariam ligados à prática insatisfatória da população do estudo. Foram utilizados dois processos: o modelo logístico bivariado e o multivariado. O Oddis Ratio (OR) obtido foi ajustado para todas as variáveis analisadas no modelo bivariado, com significância fixada em 20%. No modelo multivariado, foram mantidas apenas as variáveis com valores de p iguais ou inferiores a 0,05. RESULTADOS: Predominou o sexo masculino (54,1%), faixa etária 20 a 59 anos (62,4%), casados (60,9%), com renda entre um a dois salários mínimos. A atitude frente ao cuidado foi positiva em 98,5% dos participantes. Na classificação das práticas de autocuidado dos três segmentos: face, mãos e pés, observou-se que em nenhum deles foi satisfatória. No cuidado da face apenas 4,5% foram satisfatórias, das mãos 12,8% e dos pés, 5,3%. As práticas insatisfatórias foram negativamente associadas com as úlceras plantares e palmares (ORa=0,90; p=0,05) e com a presença de neurites (ORa=0,41; p= 0,04). CONCLUSÃO: Observou-se dissonância entre a atitude e a prática de autocuidado dos participantes do estudo, com atitudes positivas e práticas insatisfatórias. Tomando-se o autocuidado em hanseníase como essencial à prevenção de sequelas e outros transtornos, considera-se a necessidade dos profissionais de saúde desenvolverem orientações contínuas e sistemáticas bem como mecanismo de monitoramento do autocuidado para pessoas com hanseníase, com vistas à melhoria da qualidade de vida.