ALTERAÇÕES SOMATOSCÓPICAS, HEMATOLÓGICAS E NUTRICIONAIS ENTRE USUÁRIOS DE CRACK
Cocaína crack. Saúde mental. Enfermagem
Introdução: O consumo de crack configura-se como um fenômeno alarmante e
progressivo. Seu caráter dependógeno torna difícil o seu enfrentamento e leva o
usuário a ser vítima de consequências graves a saúde que podem ser identificadas
em diversas dimensões, tais como: somatoscópica, hematológica e nutricional.
Objetivos: Avaliar as relações entre alterações somatoscópicas, hematológicas e
nutricionais e uso de crack. Metodologia: Trata-se de um estudo descritivo,
exploratório, seccional de abordagem quantitativa desenvolvido com 331 usuários de
crack dos Centros de Atenção Psicossocial para dependentes de álcool e outras
drogas do Piauí. A coleta de dados aconteceu de outubro de 2012 a junho de 2013,
por meio de entrevistas, avaliação física e coleta de sangue. Para a análise
estatística, utilizou-se o aplicativo Statistical Package for the Social Science, versão
18.0. A comparação com outras variáveis categóricas foi feita por meio do teste do
qui-quadrado e o teste exato de Fisher. A significância estatística foi fixada em
(p<0,05). A força das associações entre as variáveis foi aferida pelo odds-ratio e
intervalos de confiança (IC=95%). Resultados: A amostra estudada é constituída
em sua maioria por homens, jovens, pardos, solteiros, de Teresina, com ensino
fundamental incompleto, sem renda e evangélicos. A maioria dos usuários
experimentou o crack antes dos 18 anos e usou mais de 100 vezes na vida,
associando, com o consumo de bebidas alcoólicas, maconha, tranquilizantes e
solventes. Com relação as alterações somatocópicas, hematológicas e nutriconais
entre usuários de crack 9,1% apresentavam déficit no asseio corporal, 17,5% danos
na pele, 3,0% taquisfigmia, 3,6% taquipneia, 19,3% alteração da pressão arterial
sistólica e 11,2% da pressão arterial diastólica, 55,6% cáries, 29,9% perdas
dentárias, 4,5% lesões na mucosa nasal, 4,2% epistaxe, 32% zumbido, 27,8%
vertigem, 18,1% hipoacusia. A avaliação hematológica revela importantes achados, a
citar: hemoglobina e hematócrito abaixo do padrão de normalidade, monocitopenia e
alteração nos níveis de creatinina. A avaliação nutricional realizada a partir da
análise dos hábitos alimentares, antropometria e exames bioquímicos demonstram
que os usuários realizam, em média, 4,38 refeições normalmente ricas em
carboidratos. A relação entre o peso ponderal e a altura permitem afirmar que 57,4%
estão eutróficos, 25,1% com sobrepeso, 9,4 obesos e apenas 8,2% com baixo peso.
Houve associação estatisticamente significativa entre sexo e pressão arterial
sistólica, diastólica, hemoglobina, hematócrito, HDL e albumina. Com relação ao
tempo de uso houve associação estatística com triglicerídeos (p-valor=0,036) e o
tempo de tratmento esteve associado significativamente com plaquetas,
circunferência abdominal e colesterol total. Conclusão: A contribuição específica
para o cuidar pelo enfermeiro chama atenção para a compreensão do usuário de
crack como um ser biopsicossocial cujas repercussões desse consumo transgridem
a dimensão física, sobremaneira dificultando a assistência de enfermagem
tradicional. Neste contexto, faz-se imperativa uma assistência holística e humanizada capaz de fomentar o enfrentamento desse grave problema.