O estudo teve como objetivo analisar as dimensões de vulnerabilidade ao HIV/Aids entre as mulheres transexuais e travestis. Trata-se de um estudo transversal descritivo com abordagem qualitativa, realizado em Teresina, Piauí. Os dados foram coletados no período de 2022 a 2023 por meio de entrevista individual entre mulheres transexuais e travestis com idade igual ou superior a 18 anos, residentes em Teresina, com acesso a aplicativo de troca de mensagens e/ou e-mail, e vida sexual ativa. O recrutamento das participantes ocorreu por meio da técnica bola de neve (snowball). O instrumento de coleta de dados foi um questionário virtual, com o objetivo de caracterização e identificação das vulnerabilidades de mulheres transexuais e travestis. Foi utilizado ainda um roteiro de entrevista semi-estruturado com a seguinte questão norteadora: “Como ocorre sua busca ao serviço de saúde para proteção e cuidados ao HIV?” Os dados foram avaliados por meio de estatística descritiva, para caracterização das participantes. Foi utilizada a abordagem metodológica da Análise de Conteúdo para análise das entrevistas. Adotou-se o referencial teórico e conceitual a vulnerabilidade de Ayres. O estudo obteve aprovação do Comitê de ética e pesquisa da Universidade Federal do Piauí com o número 5.543.842, e seguiu as normas que regulamentam a pesquisa com seres humanos contidas na Resolução nº 466/12 e nº 510/2016 do Conselho Nacional de Saúde, e do Ofício Circular Nº 2/2021/CONEP/SECNS/MS devido aos procedimentos de coleta em ambiente virtual. Um total de 32 mulheres transexuais e travestis participaram do estudo e sete concederam entrevista. Foram identificados marcadores importantes relacionado as vulnerabilidades individual, social e programática. Os principais pontos identificados a vulnerabilidade individual estiveram relacionados aos cuidados e situações de exposição ao HIV, quando informaram: deficiência em práticas preventivas como o uso inconsistente do preservativo; dificuldade de negociação do uso preservativo com a parceria sexual e o número de parcerias sexuais. Na dimensão social observou-se a dificuldade de acesso aos serviços de saúde, principalmente relacionado a situações de violência simbólica, como o não uso do nome social ou erros de pronome. O estigma ao HIV também foi identificado na dimensão desta vulnerabilidade. Na dimensão programática verificou-se: falha na implementação das políticas relacionadas às mulheres transexuais e travestis, assim como o acesso aos serviços de saúde. A falta de insumos para as medidas de prevenção do HIV e baixa capacitação dos profissionais de saúde para atender a esta população. Sugere-se que a centralização dos serviços de saúde à prevenção ao HIV pode ser mais uma barreira de acesso. A identificação e análise das diferentes dimensões da vulnerabilidade, possibilitaram melhor compreensão da problemática e sinalização dos aspectos prioritários voltados à população em questão. Para reduzir a vulnerabilidade ao HIV entre mulheres trans, é essencial adotar uma abordagem multidisciplinar que inclua intervenções de saúde pública, educação, políticas públicas, apoio psicossocial, pesquisa e intervenções comunitárias.