O SELF NARRATIVO EM CHARLES TAYLOR E SHAUN GALLAGHER
Shaun Gallagher, Charles Taylor, self, narrativa, intersubjetividade
Em seu livro, As fontes do self (1989), Taylor desenvolve uma narrativa sobre as fontes de constituição do self moderno, o que também, sintomaticamente, desembocará em uma abordagem narrativista sobre selves dos indivíduos. Para Taylor, nós adquirimos essa capacidade narrativista por estarmos desde já inseridos em uma comunidade que possui um background (pano de fundo) de valores e papéis sociais, e é através deles que nós compreendemos os outros e a nós mesmos. Eles formam um horizonte ou estruturas morais inescapáveis para nós. Entretanto, Taylor explica isso rejeitando qualquer recurso a aspectos sociobiológicos e fisicalistas da animalidade humana per se, postura essa que ele chama de naturalismo. Parece-nos que Taylor, ao tentar explicar como adquirirmos as configurações morais a partir das quais nos autodescrevemos narrativamente, não nos fornece uma explicação de como se constitui a nossa intersubjetividade (a relação do self com o outro). Esta é a postura assumida pelo filósofo da mente Shaun Gallagher para explicar como nós chegamos a obter a habilidade narrativista. Gallagher, também pretende estabelecer uma teoria narrativista sobre o self humano levando em conta uma abordagem que trata também das questões biológicas de como esses seres humanos alcançaram essa habilidade narrativa através das capacidades incorporadas (embodied) do indivíduo humano, que Gallagher definirá como Intersubjetividade primária. Gallagher pretende compreender as “condições de possibilidade” que permitem ao homem compreender-se a si mesmo de forma narrativista. Nosso alvo nesta dissertação é explicitar e confrontar os dois modelos alternativos de self narrativo, o de Taylor e de Gallagher para vermos até que ponto a posição de Gallagher (fenomenologia e ciências cognitivas) poderia ou não complementar a posição de Taylor (centrada em uma postura hermenêutica), respondendo as questões que parecem serem deixadas sem resposta (ou pelo menos, não atendida nas preocupações de Taylor em seu modelo narrativista de self). Nossa hipótese é que uma descrição mais completa do self deve levar em consideração não só o processo de constituição social, mas também explicar nossa capacidade de interagir compreensivamente com o outro (o fenômeno da empatia), pois, do contrário, ficaríamos com um conceito muito abstrato e distorcido do self.