Consciência, intersubjetividade e a questão moral em Jean-Paul Sartre
Consciência; Moral; Autenticidade; Responsabilidade; Jean-
Paul Sartre
O filósofo existencial Jean-Paul Sartre é conhecido por sua visão ácida dos
relacionamentos interpessoais, como manifesta em sua filosofia e em suas obras
literárias. Conhecido por sua análise da natureza opressiva do “olhar” e pela
declaração “o Inferno são os outros”, Sartre ressaltou a existência do conflito que os
nossos relacionamentos com outras pessoas produzem e o modo como esses
relacionamentos podem inibir a autonomia pessoal. Embora considere as relações
interpessoais tremendamente fonte de conflito e preocupação, ele também enfatiza
que essas relações são, por outro lado, essenciais para o nosso ser. As relações
concretas com o outro foram transmitidas principalmente em duas obras filosóficas,
La transcendance de l’égo (1936) e L’être et le néant (1943). Para Sartre a
consciência é um ser paradoxal, ambíguo e indeterminado, que nunca é um Em-si,
que nunca é idêntica a si, pois não vive o presente. Ela é um nada em si, no
presente. Ela existe como um perpétuo movimento temporal, uma transcendência
do passado em direção ao futuro. Sendo assim, ela não está condicionada à
causalidade do mundo, ela é pura transcendência da facticidade. Diante disso, da
constatação sartriana de que “o Inferno são os outros”, o problema de pesquisa
proposto à presente dissertação, expressa-se através da seguinte questão: na
descrição onto-fenomenológica da consciência, do conflito intersubjetivo, da
alteridade, qual a justificativa oferecida por Sartre de sua proposta de um
compromisso ético diante da ausência de qualquer imperativo teológico ou
ideológico? Partindo da compreensão de que a teoria da liberdade sartriana é muito
mais uma teoria da responsabilidade pessoal, a pesquisa objetivou analisar a
conceitualização de conflito, alteridade, responsabilidade e existência na obra L’être
et le néant, e a partir daí, colocar em discussão a constatação sartriana de que é
possível uma vida de responsabilidades máximas e desculpas mínimas, opção esta
que se mostra facilmente ao conhecimento intuitivo atual, como uma exceção dentro
dos relacionamentos humanos. Mais precisamente, a pesquisa se propôs: a
analisar, em Sartre, a necessidade ontológica da promoção de uma autenticidade de
nossos juízos identitários, evitando a inautenticidade, também chamada de Má-fé; a
compreender, a despeito de todo esforço, luta, superação e sacrifícios demandados
pela transcendência de nossa facticidade, por que se deve optar pela autenticidade,
por que rejeitar a Má-fé e aceitar a ideia de que o homem nasce sem finalidade e
morre sem significado e também, por que a angústia da autenticidade deve substituir
o sofrimento de assumirmos uma vida de significados e propósitos.