TEMPO DE ESPERANÇA: camponeses e comunistas na constituição das Ligas Camponesas no Piauí entre as décadas de 1950 e 1960
Camponeses; Comunistas; Ligas Camponesas, Piauí.
No início da década de 1960, o debate sobre a necessidade de uma reforma agrária no Brasil adquiriu um caráter nacional. Entre aqueles que a defendiam e os que a rejeitavam havia uma constatação comum: a calamidade da situação no campo e a imperiosa urgência em resolvê-la, sob o risco de o país ser convulsionado por uma revolução social. As Ligas Camponesas foram significadas pela imprensa do período, e também pela memória, como a expressão deste estado de efervescência social em que se encontrava o Brasil e, principalmente, o Nordeste. Considerando a relevância desse período na História do Brasil, o objetivo desse trabalho é analisar o processo de emergência das Ligas Camponesas no Piauí. Neste sentido, examino a constituição deste movimento social a partir dos empreendimentos cotidianos de camponeses e dos militantes comunistas piauienses, argumentando que as relações entre as experiências absolutamente únicas destes sujeitos foram fundamentais para a criação das Ligas no Piauí no inicio dos anos 1960. Nesta abordagem enfatizo o debate sobre a reforma agrária no Piauí, as tensões entre os grupos políticos locais e os conflitos cotidianos pelo acesso à terra no Estado. A análise apoia-se em fontes orais, hemerográficas, processos judiciais e na bibliografia sobre o tema. No tocante aos referenciais teóricos, destaco a importância do conceito de experiência elaborado por E. P. Thompson, utilizando-o como instrumento para discutir os modos como os sujeitos desta pesquisa compreenderam a realidade ao seu redor e construíram expectativas de transformação social atravessadas pela esperança do acesso a terra.