MASCULINIDADES DESCENTRADAS: Confusão de gêneros nas práticas juvenis teresinenses na década de 1970
Juventude. Micropolítica. Corpo. Gênero. Masculinidades.
Este trabalho tem como objetivo estudar as micropolíticas do corpo produzidas por parcela da juventude piauiense que realizava experimentalismos artísticos, jornalísticos e fílmicos no contexto da década de 1970. Busca-se perceber, por meio da análise das produções e táticas desse grupo juvenil piauiense, de que maneira esses jovens externavam as questões de gênero e sexualidade, especialmente no que diz respeito às masculinidades, na sociedade teresinense da década de setenta. O momento histórico em que esses jovens piauienses estão inseridos foi marcado por um contexto de transformações sociais, políticas, econômicas, culturais e também das relações de gênero. No início da década de setenta, muitas pessoas sentiram o arrochar da liberdade de expressão, tendo em vista a decretação do Ato Institucional nº 5, em fins de 1968, dando poder aos governantes para punir arbitrariamente os “inimigos do Estado”. Com o apoio das elites industriais, as administrações militares anunciavam o “milagre econômico” brasileiro, aumentando o poder de compra das camadas médias da sociedade. O processo de globalização se intensificava nesse período e mudava as concepções temporais e espaciais, descentrando os sujeitos e fragmentando a paisagem cultural. A própria concepção de arte, nesse período, ganha uma nova roupagem. É nesse contexto também que as manifestações artísticas de vanguarda atravessam arte e existência, trazendo o corpo para o cenário político. E, nesse sentido, o corpo generificado e as concepções relativas às masculinidades e às feminilidades não escapam às problematizações feitas pelas produções artísticas de vanguarda que atuaram naquela época. Tendo sido tocado por essas mudanças e influenciado por elas, esse grupo de jovens acabou por externá-las em suas experimentações artísticas. Dentre as produções realizadas por esse grupo juvenil, selecionou-se como fonte histórica, além dos jornais alternativos O Gramma, O Estado Interessante, A Hora Fatal e Boquitas Rouge, os filmes Miss Dora, David Vai Guiar e O Guru da sexy cidade. Dentre os jornais da grande imprensa que circulavam diariamente na sociedade piauiense, foram selecionados O Dia, O Estado e A Hora. Além das fontes hemerográficas e fílmicas, utilizou-se também de entrevistas realizadas com algumas das pessoas que estavam envolvidas ou faziam parte do grupo juvenil em estudo.