Este trabalho pretende compreender as estratégias e negociações entre tribos indígenas, jesuítas e governo português a partir do documento Relação da Missão da Serra de Ibiapaba escrito por Padre Antônio Vieira em 1660 quando este era o jesuíta superior da missão do Maranhão e Grão-Pará. Tendo sua vida política, religiosa envolvida nos mais variados e importantes temas do Brasil e da Europa ibérica do século XVII como a escravidão, relação com os índios, restauração da coroa portuguesa, invasões holandesas no mundo colonial ibérico, questões sefarditas e inquisição, o que contribuiu para Vieira ter uma robusta produção escrita em sermões, cartas com informações relevantes para a historiografia ibiapabana que em Vieira é revelada como espaço geopolítico de conflitos coloniais dado o registro da presença de franceses, holandeses, portugueses que disputavam a região, enquanto os índios são descritos de forma estigmatizada e em especial alguns índios da Ibiapaba que tinham valores herdados do protestantismo holandês. A escrita jesuítica de Vieira pautada pela exaltação do trabalho missionário deixa evidenciar que os índios se apropriavam de ferramentas e códigos de comportamentos europeus com a leitura e escrita, o ser católico e vassalo do Rei em busca de melhores condições de vida na realidade colonial de ocupação do norte do Ceará na qual eles não estavam totalmente estáticos e vitimados e muito menos em processo constante de dizimação.