O arquivo privado do homem de letras Possidônio Nunes de Queiroz constitui-se de um leque de documentos que vão desde as correspondências, memórias, rascunhos de trabalhos para publicação e colaborações, recortes de jornais, almanaques e revistas, fotografias e uma vasta biblioteca. Trata-se não somente de matérias escritas e datilografadas por ele, mas uma diversidade de documentos que demonstram a múltiplas atividades e representações de si e que foram sendo arquivadas na medida em que pensou em arquivar a própria vida e as formas de como quis ser lembrado. Ao tempo em que narra sua atividade como intelectual mediador da cultura de Oeiras, no Estado do Piauí, apresenta impressões sobre suas experiências na música, no funcionalismo público, como orador, cronista, redator de jornal, professor, historiador e membro de instituições que atuam diretamente no âmbito sociocultural da cidade. Pretendemos, através deste trabalho, analisar de que forma Possidônio Queiroz arquiteta suas representações, faz o uso da memória e do tempo, através do seu arquivo privado, para montar um acervo constitutivo de uma narrativa autobiográfica. Veremos como elaborou e guardou, de forma organizada, as produções textuais através de crônicas, cartas, artigos de história, relatórios da União Artística e Instituto Histórico de Oeiras, representações da sua trajetória intelectual e da cidade. Por fim, analisamos como, através das cartas, constrói uma rede de sociabilidade que ultrapassa os muros da cidade onde relata uma diversidade de temas ao tempo que constrói uma escrita de si. Para dar conta desses objetivos buscamos entender de que maneira um arquivo privado produz significações para a experiência de um indivíduo, analisando as fontes contidas nele em diálogos da relação entre história e literatura, bem como a escrita de si como escrita da história.