O presente trabalho tem por objetivo a construção de uma narrativa a partir da história de vida de cinco mulheres, que viveram em Picos, interior do Piauí, momentos decisivos para a construção das suas identidades femininas. Buscamos encontrar nas memórias dessas mulheres, as condições históricas para a construção dos papeis femininos, e as representações que estas criaram sobre o que eram, o que poderiam e o que queriam ser, observando as permanências e rupturas do modelo natural feminino arraigado ao casamento e a maternidade nas décadas de 1950 à 1970. Para tanto, abordamos questões como educação institucional e familiar feminina, a inserção dessas mulheres no mercado de trabalho, as sociabilidades, corpo e beleza, orientações de comportamento feminino, as relações de gênero e os códigos de sexualidade. A partir desses eixos, analisamos as concepções que foram absorvidas por essas mulheres sobre o casamento e a maternidade, tendo em vista a pluralidade de experiências que elas representam nesses dois aspectos. Essa pesquisa baseia-se primordialmente em fontes orais. Recorremos também à matérias de jornais que circularam na cidade como Flâmula, A voz do campus, A Ordem, O Profeta e Macambira, dados censitários, fotografias de acervos particulares e do Museu Ozildo Albano, bem como de trabalhos acadêmicos desenvolvidos sobre a cidade e período aqui abordados. Procuramos mostrar pautados nas fontes e bibliografias específicas, as possibilidades do ser mulher na cidade de Picos nas primeiras décadas da segunda metade do século XX, analisando as representações e práticas dessas mulheres de classe média alta sobre os códigos normativos exercidos sob vigilância e poder que as direcionavam para o casamento e a maternidade.