Este trabalho estuda as condições históricas que tornaram possível a emergência da Curtinália teresinense, que consiste em um grupo de jovens que buscou se singularizar em relação a outras parcelas da juventude e da sociedade em geral, a partir da elaboração de experimentalismos artísticos no início da década de 1970. Objetivou-se evidenciar as formas de percepção acerca das relações existentes entre corpo, gênero e sexualidades, tanto a partir das regulações construídas pelos discursos normatizadores da sociedade, presentes nos jornais comerciais, que funcionaram como um dispositivo do Estado para assegurar a articulação entre as normas e a organização social, quanto nos discursos presentes nas produções artísticas experimentais teresinenses. A proposta foi evidenciar como as regulações construídas pela sociedade não são naturais e sim produto de construção cultural. Empiricamente, esse trabalho se sustenta a partir de exemplares de jornais de ampla circulação, tais como Jornal do Piauí, Estado do Piauí, e O Dia, que circularam no Piauí na época em estudo, e também por exemplares da imprensa alternativa produzida pela Curtinália como o jornal O Gramma, O Estado Interessante, A Hora Fa-tal e Boquitas Rouge, todos produzidos entre 1972 e 1973. Estudou-se também os experimentalismos fílmicos, a exemplo de o Terror da Vermelha (1972), O Guru da Sexy Cidade (1972), Davi Vai Guiar (1972) e Miss Dora (1974). Teoricamente o trabalho se beneficiou dos estudos de Michel de Certeau, Michel Foucault, Gilles Deleuze, Félix Guattari, Suely Rolnik, Sócrates Nolasco, Joan Scott e Judith Butler.