A presença feminina nas polícias militares no Brasil e no mundo constitui-se em fato recente. O primeiro Estado brasileiro a admiti-las em seu efetivo foi São Paulo, em 1955, dentro de um enquadramento maternal e limitador dos espaços que ocupariam, uma vez que a identidade corporativa foi edificada sobre papeis e características de virilidade e masculinidade, cabendo às agentes o trabalho com crianças, idosos e mulheres. A Polícia Militar do Piauí, foi instituída em 1985, neste ano realizou-se concurso com vagas para oficiais que contemplavam as mulheres. Essa dissertação recorre aos estudos de gênero, tendo suporte em Joan Scott (1990) para analisar esse o cenário da inserção feminina na PMPI, a construção de uma categoria analítica e relacional proposta pela autora, favorecendo também a percepção histórica acerca da incorporação de mulheres em espaços majoritariamente masculinos, onde podem ser observadas relações de poder, que na perspectiva de Bourdieu (1998;2016), se estabelece por relações assimétricas e variantes estando em conformidade com as disposições de cada indivíduo. O recorte temporal está situado entre 1985 e 2017, norteado pela integração das primeiras mulheres à corporação e a convocação de candidatas do último concurso, o que amplia o número feminino na instituição. A pesquisa é realizada na cidade de Teresina, pois é onde encontram-se o maior número de batalhões, bem como o Quartel do Comando Geral da PMPI, onde congrega diversas atividades de comando e administração. A relevância da temática se estabelece no fato das policiais femininas no Piauí serem pouco estudadas, e na necessidade de pensar como o gênero pode influenciar as atividades realizadas pelas mulheres mesmo em instituições que a elas é dado um determinado tipo de poder, nesse caso o de atuar na segurança pública assunto amplamente discutido, uma vez que as políticas a seu respeito recaem sobremaneira no modo de vida, na ordem e sensação de paz social. Autoras como Cappelle (2004;2006) Calazans (2004) fornecem aporte teórico acerca do processo de incorporação feminina nas instituições militares, no âmbito estadual o estudo de Sousa (2009) fornece elucidativas questões que permearam o enquadramento das mulheres na PMPI, bem como Silva (2018) produzindo documentário que serviu para em conjunto com as demais fontes compreender o universo novo para o gênero feminino. A metodologia utilizada foi a pesquisa bibliográfica, análise documental através Boletins do Comando Geral que descrevem as ordens a serem tomadas no âmbito institucional, a análise do Estatuto dos Policiais Militares do Piauí, como norteador de condutas e normas corporativas, a análise e estabelecimento de diálogo com as fontes do documentário, bem como a história oral temática que servirá de mecanismo para adentrar o mundo profissional, pontuando as percepções das policiais acerca da sua vivência enquanto mulher na corporação.