As condições históricas que medeiam os anos 1980 e 1990 assistiram, no Brasil, à emergência do Rock nacional, com o surgimento de diversas bandas musicais que rapidamente caíram no gosto da juventude brasileira de classe média. Entre tais bandas, destaca-se a brasiliense Legião Urbana, que eclodiu, nesse contexto, tendo como expoentes o vocalista e compositor Renato Russo e os músicos Dado Villa-Lobos, Marcelo Bonfá e Renato Rocha. As subjetividades juvenis articuladas em torno dessa novidade musical acabaram por expressar uma existencialidade, marcada notadamente por técnicas de subjetivação que colocavam as experiências caóticas do presente e as aspirações pelo futuro no centro das formas de existir. A Legião Urbana, através dos signos da arte, conseguia trazer, para o centro da experiência jovem, práticas micrológicas que, a um só tempo, tematizam as modulações em torno da política nacional, do amor romântico, da amizade, dos vícios, da homoafetividade, da distopia existencial e da morte. Por intermédio da análise de um arsenal de fontes, a exemplo de letras de músicas, biografias, diários, capas e encartes dos discos, imagens, entrevistas e documentários, pretende-se, no presente estudo, discutir de que maneira a tematização das canções, a estética e as linguagens adotadas pela Legião Urbana e por seus consumidores atuaram na produção de sentidos às múltiplas formas de subjetivação da chamada geração Coca-Cola no Brasil. Trata-se, pois, de um trabalho que concebe a linguagem como um dos lugares de acontecimentos da história e os sujeitos históricos como resultados de complexos processos de subjetivação e de sujeição.