O mote desse trabalho consiste na análise dos documentos inquisitoriais e ultramarinos referentes a capitânia de São José do Piauí, século XVIII, sob a ótica das feminilidades e masculinidades. Nossa investigação parte da formação religiosa local e dos sujeitos que por aqui transitam. Neste sentido, a circularidade cultural seria a chave usada por nós para compreender os trânsitos culturais aqui presentes. Para isso que isso seja possível nosso Norte diz respeito a duas confissões protocoladas ao Santo Ofício como crime de idolatria no ano de 1758. Realizada por duas moças escravizadas e assimilada pelos envolvidos como um enlace como o demônio, ela nos permite através de óticas variadas perscrutar o uso das sexualidades e dos prazeres, bem como a atuação feminina no interior daquela capitania. Ademais, para além das confissões citadas nos debruçamos acerca dos vários crimes de bigamia ocorridos em meio aquela capitania. Levamos em conta a pessoalidade dos personagens, as condições de gênero e os contextos que permitiram a realização desses duplos sacramentos com fins de compreender os ideais de comportamentos da época e suas aplicações práticas. Certos de uma não passividade feminina, adentramos também os arquivos ultramarinos através das cartas enviadas a realeza, a fins de compreender como as mulheres de posse administravam sua vida a partir de um viés econômico. Diante de tudo, buscaremos pensar o espaço colonial como um local conectado dentro e fora da colônia, e como as mulheres e homens setecentistas influíam e eram influídos pelas moralidades e relações de gênero de sua época.