Este trabalho constitui um esforço de síntese da interpretação de Brasil partida de um dos mais proeminentes escritores da literatura brasileira na segunda metade do século XX. Segue os passos do literato baiano João Ubaldo Ribeiro, este que, a partir de sua obra, legou uma visão específica da história Brasil, onde haveria, como um conflito basilar e persistente, o choque violento entre o que ele concebeu como sendo o “Estado brasileiro” e o “povo brasileiro”. Partindo desse conflito básico, da sua obra e de sua atuação enquanto sujeito político, tenta-se compreender os matizes da sua interpretação e sua relação com uma certa tradição de dizer o Brasil. Compreendendo a literatura como uma forma de expressão que também tem o desejo de verdade, João Ubaldo Ribeiro é colocado numa leitura que busca ver o sentido missionário que imprimiu à sua escrita. Tal objetivo requereu forte uso, além de outros autores, da obra de Nicolau Sevcenko, onde a noção de literatura como uma missão, como uma forma efetiva de intervir na sociedade, é trabalhada como um signo que toca a escritores nos mais variados períodos da história do Brasil. As obras do escritor baiano sobre as quais se adensa o olhar nessas linhas tratam-se, sobretudo, de escritos entre o final da década de 1960 e meados da década de 1980, período em que escreveu sob a égide da ditadura militar brasileira, muito embora as discussões ultrapassem-nas, abarcando em certo sentido as experiências históricas da segunda metade do século XX.