Esta pesquisa tem por objetivo analisar as interpretações atribuídas pelos piauienses à
Constituição de 1988 durante o processo de sua construir. Para tanto, utilizamos como fontes
cartas-formulário enviadas durante os anos de 1987 e 1987 por meio do projeto Diga Gente-
Projeto Constituição, desse modo, também analisamos as relações entre sociedade e Estado,
visto que, a abertura de canais de comunicação entre as duas esferas foi anulada durante a
ditadura militar. O recorte temporal, 1976 e 1987 justifica-se por ser um período em que a
participação popular na Constituinte ganhou espaço na sociedade civil, além de serem os anos
em que funcionou a campanha de e envio de cartas. Já o recorte temporal o Piauí, foi escolhido
em detrimento de percebermos de que maneira os piauienses integraram um movimento político
que ocorreu em âmbito nacional. No que se refere à fundamentação teórica utilizamos as
seguintes categorias: opinião pública, com base nos estudos de Jean Jacques Becker (2003);
cultura política, de Serge Berstein (2003); a de participação popular com base nos estudos de
Vincent Valla (1998). Pontuamos mais duas categorias empregados na problematização dos
documentos analisados, ambos cunhadas por Reinhart Koselleck (2006), espaço de experiência,
tendo em vista que os missivistas mobilizaram discursivamente suas vivências durante a escrita
dos textos e horizonte de expectativas, pois os autores também construíram prognósticos acerca
do que consideravam necessário ser incorporado à Constituinte. A metodologia de análise foi
qualitativa e realizada a partir do entrecruzamento com outras fontes que nos permitiram
apresentar que a busca por influenciar a Constituinte não foi um movimento isolado, mas parte
de uma dinâmica de participação popular construída em ocasiões diversificadas. Analisamos
cada mensagem de maneira individual durante a fase de catalogação e, posteriormente,
identificamos aspectos comuns nos textos a fim de demonstrar que apesar da diversificação de
pedidos, o movimento de participação se conjugou em torno de aspectos comuns, entre eles, a
de que melhores condições de vida política, social e econômica dependia da redemocratização
do país. As principais fontes complementares são o Jornal O Dia e Alternativa, fotografias, o
documentário Céu Aberto, além de documentos oficiais e da própria Constituição de 1988.