O mote deste trabalho é estudar como a Igreja, o Estado e os Sujeitos – postas as relações
intersubjetivas e sexuais destes últimos – interagiam e concorriam para forjar as
masculinidades e feminilidades na capitania de São José do Piauí, durante o século XVIII.
Para isso, teremos como Norte as documentações do Tribunal do Santo Ofício, cujo conteúdo
trata sobre os supostos amores no supradito espaço-tempo, a saber, os delitos de Bigamia e
Idolatria. Esses crimes contrafé demarcavam, pois, uma afronta às moralidades e
normalidades pregadas pelas instituições que regiam a colônia. Casos que demarcavam as
capilaridades dos poderes que aqui vigoravam. Iremos, pois, observar a vida daqueles que
fugiam ao espectro de normalidade desejado aos fiéis católicos viventes naquele século,
defronte àqueles que tentavam contê-la. A História do Atlântico e a História dos Gêneros
serão os conceitos basilares da nossa pesquisa, posto as conexões entre os mares e as gentes,
suas nuances e implicações, compondo o chão histórico no qual se desdobra a presente trama.
Diante de tudo, buscaremos pensar o espaço colonial como um local conectado dentro e fora
da colônia, e como as mulheres e homens setecentistas influíam e eram influídos pelas
moralidades e relações de gênero de sua época. Nesse itinerário, faremos uma parada ao lado
do riacho da Mocha e observaremos o processo de transformação daquelas terras habitadas
por indígenas em uma urbe. Esboçadas as particularidades dessa civilização, apresentaremos
personagens a ela pertencentes e conheceremos os espaços ocupados por esses, suas casas,
fazendas e freguesias. Após isso, iremos imergir nos detalhes dos rituais de idolatria, tendo
em vista as diversas possibilidades suscitadas por ele. As culturas, as sexualidades e
sociabilidades por ele vicejadas. Por fim, adentraremos o universo das bigamias e
conheceremos como as masculinidades estavam incrustradas nessa concepção de pecado-
crime, desde a instituição que a tolhia, aos sujeitos que a abraçavam. Isso tudo nos foi tangível
através do acesso as fontes inquisitoriais, ultramarinas e aos registros de batismo da paróquia
de Oeiras, bem como do auxílio da historiografia referente ao Piauí Colonial.