A presente pesquisa propõe o estudo das conexões culturais entre Brasil e Chile, tendo como objeto-fonte a revista cultural La Bicicleta, que circulou entre os anos de 1978 e 1990, e trazia consigo a proposta de difundir a produção artística e cultural chilena. O diálogo entre Brasil e Chile se construiu a partir do momento em que a revista ampliou o debate sobre a produção cultural e artística, passando a incluir outros países da América Latina como referências na produção de música, teatro, literatura e o Brasil passou a ser pauta recorrente, construindo-se, assim, uma rede de conexões e até mesmo de solidariedade, considerando que os dois países viviam um contexto de ditadura militar. Partindo da análise das conexões estabelecidas por meio da revista nos beneficiaremos da abordagem transnacional e daremos atenção para as interações construídas por meio da arte e da cultura em tempos ditatoriais. Como debate inicial, procuramos compreender como os golpes militares que ocorreram na América Latina, com destaque para os países do Cone Sul, estiveram vinculados. Compreenderemos como o Brasil esteve diretamente envolvido com a queda do regime socialista chileno e o golpe militar no Chile de 1973, acompanhando e apoiando os movimentos golpistas que aconteciam no país, considerando que o Chile havia, desde 1964, recebido muitos brasileiros que buscavam asilo pós-golpe. Num segundo momento, compreenderemos como, a partir de 1968, a juventude chilena passou a se reorganizar e a buscar formas de resistir por meio de atividades culturais, num período no qual as instituições internacionais passaram a fazer pressão no governo militar chileno obrigando o general Augusto Pinochet a mascarar uma possível abertura, proporcionando o surgimento de revistas alternativas e culturais, como La Bicicleta. A revista surgiu em meio aos talleres culturais e à Agrupación Cultural Universitaria e conseguiu dialogar com a cultura que circulava para além das fronteiras chilenas, criando um vínculo recorrente com o Brasil, inclusive ao propor em suas páginas a criação de um cancioneiro latinoamericano. Para o desenvolvimento dessa pesquisa trabalharemos com referências teóricas e metodológicas tais como: Idelber Avelar, Samantha Viz Quadrat, Rodrigo Pato Sá Motta, Maria Helena Capelato, Tania Regina de Luca, Maria Ligia Prado Coelho, Bárbara Weinstein, Patricia Clavin, Victor Munõz Tamayo, Beatriz Sarlo, Karen Danoso Fritz e tantos outros que contribuem de forma crucial para as análises aqui desenvolvidas. Destacamos, ainda, que aqui são priorizadas referências de pesquisadores e estudiosos latino-americanos.