O presente trabalho versa sobre as condições de existência e trabalho de mulheres ciganas do Norte do Piauí entre 1970 – 2023. A priori, estabelece-se a conclusão do precário estado de vida e ocupação trabalhista das mulheres historicizadas. Posto isso, empreende-se a tentativa de compreensão dos processos históricos, sociais e políticos que levaram a consolidação de um modelo de subsistência baseado em expropriação cultural, violação de garantias legais, exploração de mão de obra, perseguição étnica e ausência de políticas públicas efetivas voltadas para a manutenção da identidade dos povos ciganos, não só do Piauí. Indo além disso, buscou-se uma leitura transversal sobre como esses processos são vivenciados sob a perspectiva de gênero, em interseção com questões de classe e etnia. Para tanto, a proposta busca dialogar com fontes hemerográficas, como o jornal O Dia, o Estado do Piauhy, BBC News Brasil e noticiários das localidades referenciadas ao longo do texto. Ampliando o escopo documental, recorre-se aos registros fotográficos como forma de leitura ampliada dos contextos e processos. Buscando mapear a presença dessas pessoas que não são percebidas pelos instrumentos oficiais de Estado – como o censo demográfico – a pesquisa alicerça-se em amplos depoimentos colhidos por meio de entrevistas semiestruturadas que versam sobre experiências pessoais e coletivas dos sujeitos aqui estudados e, como essas vidas são ordenadas por agentes exteriores em função dos interesses de natureza cultural, social, econômica e de classe. Em profícua conversação com o aparato jurídico nacional e internacional – leis, decretos, tratados e jurisdição – efetiva-se uma análise das falhas contidas na estrutura de proteção dos direitos dos povos ciganos, especificamente, das mulheres dessa etnia. Para tanto, recorre-se a autores como Saffioti (2013), Antunes (2009), Del Roio (2017), Furtado (1998), Gomes (2002), Butler (2022) e Perrot (2019) para articulação dos elementos constituintes dessa investigação e para dela aferir conclusões que sirvam para desnaturalizar posições, situações e contextos percebidos como inalteráveis.