Este trabalho aborda a constituição de uma rede de assistência à saúde materno-infantil em Parnaíba (PI) em interface às relações entre caridade, filantropia, política pública e gênero, na primeira metade do século XX. Mostra-se que a institucionalização deste campo, experiência pioneira no Piauí, em grande parte é associada às iniciativas particulares, frutos de ações caritativas/filantrópicas da sociedade civil, auxiliadas por associações, cuja mobilização, na base, centra-se no trabalho feminino voluntário e institucional. Destaca-se a dedicação de homens e de mulheres com a questão social, em especial, à pobreza, em virtude da inserção pioneira da cidade na dinâmica capitalista e do agravamento das questões sociais decorrentes deste processo. Ressalta-se que essa assistência, caritativa e/ou filantrópica, aliou-se às tentativas de implantação de políticas públicas de saúde materno-infantil pelo Estado e ao aumento da demanda de oferta de atendimento médico para crianças e mulheres/mães, em parte promovida pela ação de médicos no campo institucional. Aborda-se, ainda, que o gênero foi operado no interior da implantação do sistema de assistência materno-infantil, destacando-se a presença feminina. Mulheres e médicos comungavam um objetivo comum: assegurar a saúde das crianças.Verifica-se que na constituição de uma rede de assistência à saúde materno-infantil, o processo de institucionalização, a legitimação da prática médica e a organização de políticas públicas materno-infantis, no período, articula-se com o protagonismo das sensibilidades, das emoções, dos sentimentos humanitários e da preocupação com o outro. Utiliza-se enquanto fontes documentais jornais, almanaques e revistas, que circularam em Parnaíba e outras cidades do Piauí no período em estudo, documentos oficiais/institucionais, dados censitários, memórias, biografias, autobiografias e romances.