Este trabalho estuda as políticas dos corpos sexuados no Brasil durante a ditadura civil-militar, demonstrando sua centralidade na arena política e cultural, entre as décadas de 1960 e 1980. Os corpos sexuados emergem como força política, promovendo rupturas na articulação entre sexo, gênero e desejo. Na tentativa de conter as mudanças que envolvem os corpos sexuados, em sua interface com a juventude, a sexualidade e o gênero, alavanca-se uma série de empreendimentos que articulam o Estado e setores da sociedade civil. A sociedade civil demanda do Estado a censura de produtos culturais que publicitavam corpos que infringiam as fronteiras da sexualidade contida no interior do matrimônio e das normas de gênero em uma época de ampliação da cultura de consumo entre a juventude, do avanço da contracultura e da revolução sexual. Através dessa ação da sociedade civil, afirma-se uma identidade como os governos militares, na esperança da manutenção da moral e dos bons costumes. Paradoxalmente, a medicina intervém na manufatura dos corpos sexuados, ora reafirmando o naturalizado binarismo de gênero, ora subvertendo-o por meio da profusão de biotecnologias. O Estado ditatorial, por sua vez, identificando-se com o ideal de homem heterossexual, age para afastar corpos homossexuais e transexuais dos grandes centros urbanos e dos quadros da administração pública, articulando uma espraiada rede de vigilância com essa finalidade. Todos esses vieses analíticos convergem para um lugar: demonstrar a tentativa de controle dos corpos sexuados, que se constituíam como espaço privilegiado de construção política e subjetiva. A despeito dessas tentativas de controle, no processo de redemocratização do país, os corpos sexuados, além de ponto nevrálgico do debate público, estão na base de políticas de identidade que demandam do Estado uma redefinição, para reconhecer e assegurar direitos a corpos sexuados na esfera da política institucional. Para desenvolver este trabalho, o corpus documental foi constituído de uma variedade de fontes: jornais de ampla circulação, jornais alternativos, revistas, boletins, documentos dos órgãos de vigilância do Estado, leis, decretos, fichas de detenção, estudos criminalísticos, teses médicas, cartas, documentos episcopais, livros, fotografias, autobiografias, atas, panfletos e cartazes.