Esta dissertação é resultado de um trabalho de pesquisa sobre as origens, a construção e as interlocuções que caracterizam a obra A Civilização do Couro (1942), de autoria do piauiense Renato Castelo Branco. Para além das representações da identidade piauiense, todo o esforço de investigação aqui empreendido esteve voltado para buscar uma compreensão do significado desta obra, da sua relação com a trajetória do autor, do universo de interlocução no qual se constituiu e da sua inserção no contexto histórico do período em que foi elaborada e publicada, qual seja, o Estado Novo. Uma das preocupações que presidiu a pesquisa foi a de desvelar as possíveis relações entre a obra e o ideário político dominante no Estado Novo no Piauí, especificamente, durante a interventoria de Leônidas de Castro Melo, que financiou a publicação. Para responder a estas questões e - a partir de um olhar fundamentado nos padrões de uma história social -, o trabalho dá visibilidade às condições materiais de existência desta obra; investiga a trajetória do autor, a fim de compreender seu processo de inserção no campo literário brasileiro, assim como os caminhos que o levaram à publicação da obra; analisa o cenário político nacional e piauiense durante o Estado Novo, em especial às questões concernentes à cultura e ao campo literário; aborda as possíveis relações entre a publicação da obra de Castelo Branco e a necessidade de legitimação das demandas por melhorias infraestruturais no Estado; bem como discute as estratégias argumentativas e narrativas utilizadas pelo autor para a construção de uma obra que atendesse aos critérios da crítica ligada ao regime varguista. Para tanto, tomando como referência autores como Pierre Bourdieu, Roger Chartier e Raymond Williams, e dialogando com historiadores brasileiros como Ângela de Castro Gomes, Francisco Alcides do Nascimento e Mônica Pimenta Veloso, foram utilizadas fontes de variada natureza, como: cartas, obras literárias (e dentre elas romances, memórias e ensaios), matérias publicadas em jornais e revistas, além de relatórios e outros documentos oficiais. O recorte cronológico da pesquisa cobre os anos de 1937 a 1942 – datas que marcam respectivamente o início do Estado Novo e a publicação da obra estudada.