ENTRE TRILHOS E DORMENTES: A Estrada de Ferro Central do Piauí na história e na memória dos parnaibanos (1960-1980)
História. Parnaíba. Memória. Ferroviários
O trem é uma invenção que traduz magia, desejo e encantamento. A sua aparição ampliou o horizonte de expectativas dos homens que desejavam alcançar o progresso material dos seus estados, cidades e países. No Piauí, ele apareceu e desapareceu no século XX na cidade de Parnaíba. Os parnaibanos foram os primeiros a experimentar as sensações do convívio com esse novo meio de transporte que invadiu o litoral. A locomotiva carregou em seus vagões produtos frutos do extrativismo, animais, frutas, verduras e muitos passageiros cheios de seus sonhos, desejos e esperanças por dias melhores. O trem que despertou encantos e embalou sonhos entre os piauienses foi desativado na década de 1980 deixando um rastro de saudades e cicatrizes de emoção na memória daqueles que conviveram com ele. O presente trabalho é resultado de uma pesquisa que teve como objetivo geral compreender o processo de desativação da Estrada de Ferro Central do Piauí entre as décadas de 1960 a 1980. Dessa forma, a pesquisa tem como objetivos específicos investigar como os parnaibanos reagiram diante da desativação da Estrada de Ferro Central do Piauí; conhecer o cotidiano da cidade e sua relação afetiva com o trem; analisar como a ferrovia é representada na memória dos ferroviários. Para tanto, foram utilizados três fios condutores: apresentamos a cidade de Parnaíba e sua relação afetiva com o trem; os descaminhos do transporte ferroviário no Piauí e os caminhos rodoviários entre as décadas em estudo; as histórias e memórias dos ferroviários que trabalhavam na ferrovia e conviveram com seus descaminhos e consequentemente com sua desaparição. A delimitação espacial da pesquisa contempla a cidade de Parnaíba nas décadas finais do século XX, por essa cidade ter sido sede administrativa da Estrada de Ferro Central do Piauí. O estudo recorre à utilização dos conceitos desenvolvidos sobre memória e cidade defendidos por teóricos como: Michel de Certeau (2003), Jacques Le Goff (2013), Fernando Catroga (2001), Maurice Halbwachs (1990), Raquel Rolnik (1995), Sandra Jatahy Pesavento (2001), Italo Calvino (2008), Ana Fani Alessandri Carlos (2003); sobre o conceito de Modernidade Marshall Berman (2007), Francisco Hardman (2005), Nicolau Sevcenko (1998, 2009), Antônio Paulo de Moraes Rezende (1994, 2008), Cláudia Cristina da Silva Fontineles (2007, 2009, 2010). A pesquisa utilizou como suporte, fontes orais obtidas por meio de entrevista temática, documentos oficiais, hemerográficas, livros escritos por memorialistas parnaibanos e periódicos. Foram importantes para a compreensão e análise da metodologia da história oral os estudos de Paul Thompson (2002), Verena Alberti (2008), Francisco Alcides do Nascimento (2002). Os resultados da investigação indicam que a sociedade parnaibana se manifestou, por meio de jornais locais, solicitando ajuda aos políticos piauienses para a manutenção da Estrada de Ferro Central do Piauí, mas pouco foi feito diante da política econômica adotada pelos governos militares no Brasil entre as décadas de 1960 e 1980, que priorizaram o rodoviarismo no país em detrimento do transporte ferroviário. Sua desativação provocou sentimentos e ressentimentos entre os ferroviários que alimentam o desejo da reativação do transporte ferroviário no Piauí.