FONTENELLE, L. C. Avaliação do estado nutricional relativo ao
selênio em mulheres com obesidade e sua relação com a inflamação
crônica de baixo grau. 2022. Tese (Doutorado) – Programa de Pós-
Graduação em Alimentos e Nutrição, Universidade Federal do Piauí,Teresina-PI.
O selênio é um micronutriente essencial com propriedades
antioxidantes e anti-inflamatórias que participa de processos
fisiológicos importantes. No contexto da obesidade, ainda são
controversos dados de estudos acerca da existência de alterações no
estado nutricional relativo a esse elemento. Associado a isso, a atuação
do selênio no controle da inflamação em condições de excesso de
adiposidade não está bem esclarecida. Assim, esta tese teve como
objetivos: 1) analisar na literatura as diferenças existentes no estado
nutricional relativo ao selênio entre indivíduos com eutrofia e com
sobrepeso/obesidade; e 2) avaliar a relação entre marcadores do estado
nutricional relativo ao selênio e da inflamação crônica de baixo grau em
mulheres obesas. No primeiro estudo, foi conduzida busca bibliográfica
sistemática nas bases de dados PubMed, Scopus, Web of Science,
Embase, Cochrane Library e Biblioteca Virtual em Saúde, sendo
incluídos 73 artigos, dos quais 65 foram elegíveis para meta-análise. As
estimativas de tamanho do efeito, heterogeneidade e viés de publicação
nas análises principais e de subgrupos foram calculadas com o auxílio
do programa Comprehensive Meta-Analysis. O segundo estudo, de
natureza transversal, envolveu 81 mulheres com idade entre 18 e 50
anos, que foram distribuídas em dois grupos de acordo com o IMC:
grupo obesidade (n = 38) e grupo eutrofia (n = 43). A ingestão de
selênio foi avaliada por meio do registro alimentar de três dias. As
concentrações plasmáticas, eritrocitárias e urinárias de selênio foram
determinadas usando espectrometria de emissão óptica com plasma
indutivamente acoplado. A análise das citocinas séricas IL-8, IL-1β, IL-
6, IL-10 e TNFα foi realizada por meio de citometria de fluxo. Os dados
foram analisados por meio do programa estatístico SPSS. Os resultados
da meta-análise não revelaram diferenças significativas no teor
dietético e concentrações plasmáticas/séricas de selênio e de
selenoproteína P entre os grupos avaliados. Quanto à glutationa
peroxidase, a atividade da enzima no plasma/soro mostrou-se reduzida
nas crianças e adolescentes com sobrepeso/obesidade. Entretanto,
quando a atividade enzimática foi analisada nos eritrócitos e sangue
total, a diferença não foi estatisticamente significativa. Os indivíduos
adultos com sobrepeso/obesidade apresentaram atividade reduzida de
ambas as isoformas da glutationa peroxidase quando comparados
àqueles com eutrofia. Sobre os marcadores de excreção, pessoas com
sobrepeso/obesidade apresentaram concentrações reduzidas de selênio
na urina e unhas. Em relação aos resultados do estudo transversal,
observou-se maior ingestão dietética de selênio pelas mulheres obesas
quando comparadas às eutróficas. Todavia, as participantes com
obesidade apresentaram concentrações plasmáticas e eritrocitárias de
selênio reduzidas concomitante à excreção urinária elevada desse
mineral. Verificou-se ainda concentrações aumentadas de IL-6 e
reduzidas de IL-8, IL-1β e TNFα nas mulheres obesas em comparação
às eutróficas. O selênio eritrocitário foi considerado preditor
independente das concentrações de IL-8 no grupo com obesidade. As
evidências da literatura apontam a redução da atividade da glutationa
peroxidase no plasma/soro e eritrócitos como a principal alteração no
estado nutricional relativo ao selênio em indivíduos com obesidade.
Além disso, esse mineral, em concentrações adequadas nos eritrócitos,
contribui para atenuação do processo inflamatório crônico de baixo
grau presente nessa doença.