Leishmania infantum chagasi no sedimento urinário de cães:
alterações bioquímicas e do trato urinário
Leishmania; urina; cães
A leishmaniose visceral canina (LVC) é uma doença de difícil
diagnóstico, devido à diversidade da sintomatologia clínica apresentada e pela
dificuldade em obter uma prova diagnóstica que reúna alta sensibilidade e
especificidade. Além disso, os processos patológicos e imunológicos na LVC
são complexos e muitos pontos ainda precisam ser esclarecidos. Objetivou-se
com esse estudo diagnosticar a LVC através da pesquisa de Leishmania em
sedimento urinário e relacionar com os parâmetros bioquímicos, histopatológico
e PCR de tecido renal e bexiga, em cães. Na realização desse experimento
foram utilizados 90 cães, nos quais se realizaram avaliação física, testes
sorológicos e parasitológicos para diagnóstico de LVC e NestedPCR para
diagnóstico de Erlichia canis. Após o diagnóstico de LVC e exclusão dos
positivos para E. canis, os cães foram submetidos a estudos bioquímicos
utilizando amostra de soro sanguíneo e histopatológicos e PCR de tecido renal
e bexiga. A comparação entre os grupos foi realizada através da análise de
variância seguida pelo teste de Duncan e testes não paramétricos de Kruskal-
Wallis e Exato de Fisher, com probabilidade de erro de 5%. Em 5,6% (5/90)
dos animais estudados detectaram-se Leishmania sp. na cultura de sedimento
urinário e, em 56,7% 51/90 observou-se presença de Leishmania sp. em pelo
menos um dos órgãos pesquisados (medula, linfonodo, fígado, baço e pele).
Nos parâmetros bioquímicos, os valores de albumina dos animais com
presença de Leishmania na urina (média 1,21 g/dL) foi estatisticamente inferior
a dos cães infectados e negativos na urina (média 2,22 g/dL). Alteração
significativa também foi observada na relação albumina:globulina entre os três
grupos, sendo inferior nos cães positivo na urina e superior no grupo controle.
Estatisticamente, a presença do parasito na urina não teve nenhuma relação
com a insuficiência renal observada pelo aumento de ureia e creatinina séricas
(p>0,05). A presença de Leishmania em bexiga, observada através de imprint
corado com Giemsa em um dos cães positivo na urina, reforça a hipótese de o
parasito chegar à urina através de lesões na bexiga e, apesar dos cães com
presença de Leishmania em sedimento urinário apresentarem alterações
histopatológicas aparentemente mais graves, não foi observada diferença
significativa (p>0,05) entre a PCR e histopatologia de rim e bexiga nos grupos
estudados. Conclui-se que é possível diagnosticar a LVC através da cultura de
sedimento urinário, porém com baixíssima eficiência e a presença de
Leishmania na urina, de alguns cães infectados, pode ser em decorrência da
baixa concentração de albumina.