Os parâmetros utilizados para avaliação da função cardíaca podem ser dependentes de fatores como: espécie, raça, gênero, idade, estilo de vida, estado gestacional e condições climáticas. A espécie equina é subdivida em numerosas raças com características distintas. Essas diferenças são perceptíveis desde a conformação corporal, predispondo cada raça à uma aptidão particular (tração, velocidade, resistência e explosão). A vaquejada é uma prática esportiva amplamente difundida no nordeste do Brasil. Essa atividade requer esforços extenuantes por parte dos equinos, condições que podem levar ao remodelamento cardíaco e possivelmente dados cardiológicos que diferem de outras modalidades esportivas. O eletro e ecocardiograma são exames já bem estabelecidos para avaliações cardíacas; contanto, o uso dessas tecnologias no diagnóstico de alterações patológicas e prováveis correlações clínicas só é possível quando já existe a padronização dos índices para um determinado grupo de indivíduos. O objetivo desse trabalho foi estudar a função cardiovascular de equinos da raça quarto-de-milha atletas de vaquejada, por meio de exames eletro e ecocardiográficos em modo B, M e Doppler e mensuração do Strain e Strain Rate por Speckle Tracking, a fim de caracterizar dados que possam servir de referência na prática clínica. Para a coleta de dados eletrocardiográficos foram utilizados vinte e dois equinos, e para o estudo ecocardiográfico foram utilizados dezenove, todos saudáveis e da raça quarto-de-milha. Para ambos os exames os animais foram divididos em dois grupos quanto ao gênero (machos e fêmeas) e em três grupos quanto ao tempo que praticam o esporte vaquejada (animais que praticam há no mínimo 1 ano e no máximo 2 anos, animais que praticam há no mínimo 2 anos e no máximo 3 anos e animais que praticam vaquejada há mais de 3 anos). Para o exame eletrocardiográfico, foram realizadas gravações numa velocidade de 50 mm por segundo, com calibração de tensão de 1 cm para cada milivolt (1mV = 1cm), sendo avaliados os seguintes aspectos: ritmo, frequência cardíaca média (FC) em batimentos por segundo (bpm), duração em milissegundos (ms) das ondas P, S, T, intervalo PR, complexo QRS, intervalo QT, intervalo QT corrigido (QTc) e segmento ST e amplitude em milivolts (mV) das ondas P, Q, R, S, T e nivelamento do segmento ST; todos analisados na derivação bipolar II (DII). Os animais foram submetidos ao exame ecocardiográfico como descrito por Reef (1998). No modo-M, os parâmetros avaliados foram: a espessura do septo interventricular (IVST), a espessura da parede livre do ventrículo esquerdo (LVWT) e diâmetro interno do ventrículo esquerdo (LVID), todos em sístole e diástole; fração de encurtamento (FS%), fração de ejeção (EF%). No modo 2D, diâmetro da valva aórtica (Ao), diâmetro do átrio esquerdo (LA), relação átrio esquerdo/aorta (LA/Ao), diâmetro da via de saída do ventrículo esquerdo no momento de abertura da valva aórtica (LVOTd). No modo Doppler pulsado, velocidade máxima do fluxo sanguíneo aórtico (AVmax), a integral velocidade-tempo (Ao-VTI), o tempo de relaxamento isovolumétrico (IVRT), fluxo transmitral (E wave e A wave), e as relações E/A e E/IVRT. Os dados obtidos foram analisados utilizando o programa estatístico Statistical Analysis System, com prévia verificação da normalidade dos resíduos pelo teste de Shapiro-Wilk. Os dados originais ou transformados foram submetidos à análise de variância (ANOVA), e, quando significativos, as médias foram confrontadas pelo teste de múltipla amplitude de Tukey ou pelo test t Student. As probabilidades de correlações entre as variáveis com o peso, idade e tempo de prática esportiva foram determinadas por regressão linear. Para todas as análises estatísticas, o nível de significância considerado foi 5%.
Avaliação da função cardíaca de equinos da raça Quarto-de-Milha submetidos ao exercício de vaquejada