INTOXICAÇÃO EXPERIMENTAL EM OVINOS E ASININOS COM FOLHAS DE Brunfelsia uniflora
Plantas tóxicas, sintomatologia nervosa, Mesorregião Norte do Piauí, animais.
A intoxicação por plantas é relatada desde a época da colonização e continua a ser um problema, sobretudo nos animais de produção, cujos estudos têm recebido especial atenção em decorrência dos danos econômicos por elas ocasionadas. Atualmente são conhecidas mais de 122 plantas tóxicas de diferentes espécies no Brasil. No Piauí, o conhecimento das plantas tóxicas de interesse pecuário é escasso. Em um levantamento realizado na Mesorregião Norte Piauiense, os entrevistados declararam a existência de 15 plantas comprovadamente tóxicas, na região e sete plantas mencionadas como tóxicas, mas sem comprovação de sua toxicidade, dentre elas, a Brunfelsia sp., relatada como causadora de alterações nervosas, no começo das chuvas, quando os animais ingerem as folhas e flores e os asininos são, aparentemente, os mais afetados. Para comprovar a toxicidade da Brunfelsia uniflora, suas folhas foram administradas a asininos e ovinos. O experimento 1 foi realizado com três asininos: um que recebeu 20 gramas de folhas/kg peso vivo após a floração, oral, uma só administração; outro que recebeu 10 gramas de folhas/kg de peso vivo, colhidas na época da floração, em uma única administração oral; e um asinino que recebeu 5 gramas de folhas/kg de peso vivo, colhidas na época da floração, em uma única administração oral. Os sinais observados no animal que recebeu a dose maior (10g/kg/pv) no período da floração da planta, foram: convulsões, hiperestesia e andar desequilibrado. Na dose menor (5g/kg/pv) o asinino apresentou apenas diarréia, sem manifestação nervosa. O que recebeu a planta após o período de floração não apresentou alterações clínicas. No experimento 2, utilizando ovinos, 8 animais divididos em 4 grupos: Grupo 1 – dois animais que receberam 10g de folhas/kg de peso corporal (g/kg), após floração; Grupo 2 – dois animais que receberam 20g de folhas/kg de peso corporal, após a floração; Grupo 3 – dois animais que receberam 10g de folhas/kg de peso corporal, na época de floração e, Grupo 4 – dois animais que não receberam a planta (controle). As folhas foram fornecidas por via oral, em dose única. O ovino 1 do G3 (experimental), iniciou sinais de intoxicação seis horas após a administração, apresentando salivação e diarreia. Após 8 horas e 45 minutos apresentou apatia e ansiedade e 45 horas após a administração da planta o animal mostrou incoordenação grave com o aumento da postura de base ampla e relutância em se movimentar, com movimentos involuntários do pescoço, mastigação contínua e distonia palpebral. Os quatro membros ficaram estendidos e, pela dificuldade de apoio em pé, ocorreram quedas e contrações tônico-clônicas. As convulsões ocorreram em intervalos de aproximadamente uma hora e duraram aproximadamente cinco minutos. Cerca de 34 horas após a primeira crise, as convulsões cessaram e os demais sinais clínicos regrediram, demonstrando apenas apatia. Este animal foi eutanasiado e necropsiado 120 horas (5 dias) após a administração. Não foram encontradas alterações macroscópicas e nem lesões microscópicas nos órgãos. No ovino 2 do G3, os sinais clínicos foram semelhantes aos observados no ovino 1 do G3, sendo que, foram regredindo e entre quatro e cinco dias, o animal voltou a se alimentar, adotando uma postura normal entre o quinto e o sexto dia. Esses resultados confirmam que B. uniflora é uma planta tóxica para ovinos e asininos, na época da sua floração e constituem os primeiros relatos da intoxicação experimental, nestas espécies, por esta planta.