ANÁLISE DO LEITE INFORMALMENTE COMERCIALIZADO NO SUL DO ESTADO DO PIAUÍ, BRASIL
Células Somáticas, Composição do leite, Multirresistência
O leite é um alimento susceptível ao desenvolvimento microbiano e sob condições higiênico-sanitárias inadequadas, pode veicular patógenos. Por esse motivo, a Legislação Federal proíbe a comercialização de leite in natura para consumo direto. Devido à inexistência de laticínios para o beneficiamento da matéria-prima, a venda de leite informal persiste na microrregião do Alto Médio Gurguéia, sul do estado do Piauí. Esta pesquisa teve como objetivo, avaliar a qualidade do leite comercializado informalmente no sul do estado do Piauí. Para as contagens bacterianas, células somáticas, análises físico-químicas e de composição centesimal, foram adquiridas 102 amostras, mediante compra, em diferentes pontos de venda de Bom Jesus, Cristino Castro, Santa luz e Redenção do Gurguéia, durante o período seco e chuvoso do ano. As amostras foram enviadas em isopor com gelo ao laboratório de Microbiologia de Alimentos da Universidade Federal do Piauí, Campus de Bom Jesus, onde foram realizadas as análises de contagem padrão em placas (CPP) e determinação do número mais provável de coliformes (NMP) a 35º C e 45º C, além das provas de acidez titulável, densidade e pH. Duas alíquotas de 40 mL foram retiradas assepticamente e enviadas com conservante em isopor com gelo para o laboratório PROGENE da Universidade Federal Rural de Pernambuco, para realização de contagens bacteriana total (CBT) e de células somáticas (CCS), bem como o estudo da composição centesimal. Para pesquisa de anticorpos contra Brucella abortus, aplicou-se o teste do anel do leite em 76 amostras oriundas dos quatro municípios. Para pesquisa de resistência e caracterização de Escherichia coli, 52 amostras foram coletadas em maio de 2013. As cepas isoladas em Agar EMB, foram repassadas para Agar nutrientes e enviadas ao laboratório da FIOCRUZ, onde foram realizadas a sorotipagem, pesquisa de genes de resistência (aac (3”)-IIa, aac (6’)-Ib, blaCMY, bla CTX-M, qnrA, qnrB, qnrS) e de virulência (eagg, eaeA, stx1, stx2, ST, LT, rfb O157 e ial), pelo método de PCR; e o perfil de resistência, pela técnica de difusão em disco. Os resultados mostraram elevadas médias de CPP (1,71 x 105), CBT (6,30 x 105 UFC/mL) e CCS (3,09 x 105). Comparado à legislação vigente (IN62) contatou-se elevado percentual de amostras em desacordo para CPP (63,72%), CBT (95,09%), coliformes a 35º C (85,29%) e a 45º C (53,92%), CCS (28,43%), densidade (34,31%), acidez (36,27%), gordura (11,76%), proteína (23,52%), ESD (33,3%). Um percentual de 9,21% (7/76) das amostras foram reagentes para B. abortus. Todas as amostras foram reprovadas em pelo menos um dos parâmetros analisados. As 22 (42,3%) cepas de E. coli isoladas, foram negativas à soroaglutinação nos antissoros EPEC, EIEC, E. coli O157 e E. coli H7. Os genes eaeA e LT foram encontrados em uma (4,54%) amostra. Nenhum gene de resistência foi detectado. Houve resistência e resistência intermediária a estreptomicina em 4,54% e 68,18%, respectivamente. Também houve resistência a tetraciclina (13,66%), ampicilina (13,66%), sulfametoxazol trimetropim (9,09%), nitrofurantoína (4,54%) e cefoxitina (4,54%). Não houve resistência a cloranfenicol, ceftriaxone, gentamicina, ciprofloxacina e ácido nalidíxico. Conclui-se que o leite cru informalmente comercializado passa por precárias condições de higiene e seu consumo na forma crua oferece risco à saúde, devido à possível presença de patógenos entéricos, bactérias multirresistentes aos antimicrobianos e B. abortus, e ainda a grande variação de seus componentes dificulta sua utilização em dietas controladas.