Comunicação. Recepção. Mediações. Forró eletrônico. Juventude.
A música é uma manifestação social que representa sua época, cultura, usos e costumes de uma sociedade, que é cantada e contada por essa forma de arte. O forró, como componente cultural da Região Nordeste do Brasil, apresenta atributos de uma nordestinidade que se ressignifica desde a década de 40 do século XX, assim como as representações simbólicas da mulher cantadas por esse estilo musical. Nesse contexto, lançamos o olhar sobre o gênero feminino e sua corporeidade enunciada no forró eletrônico e objetivamos, nesta investigação, analisar o processo de construção de sentidos midiáticos entre consumidores/receptores jovens de forró eletrônico contemporâneo a partir das representações simbólicas da mulher, quando esses jovens interagem com as mensagens sugeridas nas bandas “Limão com Mel”, “Furacão do Forró” e “Garota Safada”. Utilizamos metodologicamente na investigação a Análise de Conteúdo Categorial (BARDIN, 2011) e nos apropriamos da Teoria das Mediações (MARTÍN-BARBERO, 2001) e do Modelo das Multimediações (OROZCO GÓMEZ, 2000) para analisar os conteúdos apresentados nas letras do forró eletrônico midiatizado referente à oferta de sentidos constituidores sobre o ser feminino, identificar os sentidos de construção do gênero feminino presentes nos produtos midiáticos (DVD) de bandas de forró eletrônico, suas negociações na recepção e analisar as mediações intervenientes no processo de recepção midiática e produção de sentidos junto aos jovens de uma escola pública estadual do ensino médio da cidade de Caxias-Ma. Na primeira etapa da pesquisa, foram analisadas 64 músicas, 22 da banda “Garota Safada”, 22 da banda “Furacão do Forró” e 20 da banda “Limão com Mel”, sendo identificados 161 sentidos. Esses sentidos foram agrupados a partir de duas variáveis: quantidade e similaridade, ou seja, observamos os sentidos que mais foram ofertados em cada DVD, bem como na união de todos eles. Suas similaridades possibilitaram a formação de categorias de análise, nas quais foram denominadas com títulos de músicas das bandas investigadas: Categoria A: “Vou te amar até o fim” – Sentidos de romance; Categoria B: “Ninguém vai me mudar” - Sentidos de conquista e traição masculina; Categoria C: “É só chegar e beijar” – Sentidos eróticos; Categoria D: “Fiel à cerveja” – Sentidos de festividade e alegria; e Categoria E: “Pianinho, caladinho” – Sentidos de empoderamento feminino. Essas categorias apresentam uma mulher, sobretudo romântica, pronta para o sexo e capaz de perdoar o homem traidor. Contudo, percebemos relações de emancipação quanto ao uso do seu corpo, às práticas antes somente masculinas, como beber e trair, sendo esta mulher, ainda retratada nas letras e na dança, como um elemento de desejo e consumo do homem. Para a segunda parte da pesquisa, a análise da recepção juvenil, foram realizados cinco grupos focais com 44 alunos do ensino médio do Centro de Ensino Inácio Passarinho, com idades entre 18 e 25 anos. Identificamos conexão com todas as categorias relacionadas nas análises dos DVD, com a identificação de mais quatro categorias: Categoria F: Ícone referencial de beleza feminina; Categoria G: Estratégia de consumo mercadológico; Categoria H: Dicotomia feminina; e Categoria I: Negociação. Essas categorias possibilitaram concluirmos que a imagem da mulher no forró eletrônico midiatizado é plural. Por vezes, violentada simbolicamente pela indústria cultural, é reconhecida como ícone e beleza, estratégia de consumo mercadológico, profissional, esposa para uns e amante erótica para outros, apaixonante bailarina e independente financeiramente, empoderada do seu corpo, agora, também, é traidora conjugal, sobretudo por vingança. É uma mulher que já não perdoa tanto, mas ainda sonha com seu “príncipe”; que negocia sentidos, posições sociais, lugares de ser e de estar no mundo.