O Eucalyptus globulus Labill é uma espécie nativa da Austrália e Tasmânia e se adaptou muito bem a praticamente todas as regiões tropicais e subtropicais do globo. O Óleo essencial (OE) dessa espécie apresenta dentre suas atividades biológicas, atividade antimicrobiana, antioxidante, inseticida e antifúngica. Levando em consideração a solubilidade limitada no meio aquoso e pela natureza volátil dessas substâncias, plataformas de liberação podem ser consideradas alternativas promissoras para veiculação de OEs. Atualmente, os cristais líquidos liotrópicos têm ganhado muita atenção como carreadores de fármacos, pois esses sistemas são adequados para aplicação local, apresentando propriedades bioadesivas e utilização como plataforma de liberação controlada de fármacos. Além
disso, permitem a incorporação de fármacos hidrofílicos, lipofílicos e anfifílicos. Além de todas essas vantagens, a utilização de antimicrobianos nesses sistemas podem reduzir efeitos colaterais sistêmicos e irritações locais. Por esses motivos, a utilização do metronidazol (MTZ), que é um agente antimicrobiano amplamente utilizado e eficiente, com ação contra bactérias anaeróbias e protozoários, pode ser uma alternativa promissora para aplicação em infecções odontológicas. Para a obtenção dos cristais líquidos foram construídos diagramas de fases pseudoternários (DFPT) nas proporções 1:1, 2:1 e 3:1 de tensoativo e co-tensoativo , depois o OE de E. globulus foi adicionado diretamente nessa mistura, e em seguida adicionou-se água em diferentes concentrações fixas. Depois da obtenção e seleção das
plataformas o MTZ foi adicionado nas concentrações de 0,5 e 1%, posteriormente foram avaliadas em microscopia de luz polarizada. Após seleção dos cristais líquidos, um método analítico de quantificação foi validado seguindo o preconizado pela RDC nº 166/17 da ANVISA. Em seguida, a cinética de liberação in vitro do MTZ nas formulações foram avaliadas utilizando células verticais do tipo Franz (n=3), aplicando os modelos matemáticos de ordem zero, primeira ordem, Higuchi e Korsmeyer-Peppas. Para avaliar a atividade antimicrobiana in vitro os testes foram realizados frente às cepas padrão de Candida albicans ATCC 10231, Escherichia coli ATCC 25922, Staphylococcus aureus ATCC 25923 e Enterococcus faecalis NCTC 12697 baseados em métodos adaptados de CLSI. Para avaliar o potencial de irritação das formulações utilizou-se ensaio HET-CAM utilizando ovos embrionados. Como resultados, as 8 formulações foram avaliadas em microscopia de luz polarizada obtendo imagens que caracterizam cristais líquidos liotrópicos de fase hexagonal. Em seguida, o método analítico foi validado em ordem zero e primeira ordem, onde a equação da reta foi y = 0,0547x - 0,025, e y = 0,0309x - 0,0114, respectivamente, a utilização das análises em primeira ordem apresentaram parâmetros de especificidade, linearidade, efeito matriz, exatidão, precisão e robustez mais satisfatórios. O estudo cinético de liberação in vitro do MTZ demonstrou que o modelo mais ajustável (R 2 mais próximo de 1) foi o de Higuchi para as formulações de cristais líquidos, que é um modelo que caracteriza sistemas de liberação controlada de fármacos. As formulações F2, F2 0,5% e F2 1% foram previamente selecionadas para o teste de atividade antimicrobiana e não apresentaram atividade frente a Candida albicans, em contrapartida, a formulação F2 1% apresentou atividade antimicrobiana para concentrações acima de 256 µg/mL frente às cepas de E. faecalis, S. aureus e E. coli.. Todas as formulações foram não irritantes no ensaio de HET-CAM. Conclui-se que as formulações de cristais líquidos são promissoras para utilização tópica no carreamento de MTZ a 1% para aplicação odontológica.