A Leishmaniose cutânea é uma doença parasitária causada por diversas espécies de Leishmania, cuja identificação é crucial para o tratamento eficiente. Em decorrência dos efeitos adversos e da resistência aos fármacos convencionais, surge a necessidade de novas terapias. A recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) para o uso de terapias combinadas e tratamentos tópicos enfatiza a importância de tratamentos menos tóxicos em lesões menores. Os bigeis são géis bifásicos que combinam um organogel com hidrogel, apresentam características favoráveis para a liberação de medicamentos, melhorando a penetração na pele e proporcionando uma ação local eficiente. Este estudo propõe o desenvolvimento de um bigel contendo Anfotericina B (AmB) para aplicação tópica, visando otimizar a eficácia do tratamento e minimizar efeitos colaterais. Realizou-se a preparação dos bigeis por meio da combinação, sob agitação, de um organogel e um hidrogel de carbopol 940. A fase organogel foi composta de manteiga de manteiga vegetal, cera vegetal e e óleo vegetal . A Anfotericina B foi adicionada durante a combinação das fases. Realizou-se a caracterização físico-química e estabilidade acelerada dos bigeis. Fez-se testes de avaliação das características organolépticas, intumescimento, retenção de óleo, pH, espalhabilidade, textura, tolerância das preparações pelo ensaio HET-CAM quantificação do ativo e liberação in vitro da AmB. O bigeis foram preparados de forma satisfatória, como demostrado pela retenção de óleo após centrifugação e manutenção dos caracteres organolépticos. Os testes de intumescimento e de avaliação da textura mostraram o efeito da Anfotericina B sobre estas variáveis. O pH das formulações permaneceu adequado ao uso tópico mesmo após o estresse aplicado para avaliação da estabilidade e os parâmetros da textura dos bigeis foram superiores ao hidrogel de referência, estes parâmetros estão relacionados a aceitação do produto pelo paciente e sua eficácia na aplicação em lesões. Os bigeis contendo Anfotericina B apresentaram baixo potencial de irritação no ensaio HET-CAM, o que os habilita para o uso na pele. A cinética de liberação in vitro revelou que o bigel testado controlou a liberação de AmB de forma eficaz e com o modelo cinético de ordem zero, demonstrando que a liberação do fármaco é constante ao longo do tempo. Os testes de quantificação do ativo nos bigeis demonstraram que sob as condições do teste de avaliação da estabilidade a concentração do ativo ficou abaixo do limite definido para uso tópico. O desenvolvimento de um bigel tópico contendo anfotericina B demonstrou-se promissor para o tratamento da leishmaniose cutânea, viabilizando uma liberação controlada do fármaco com minimização de efeitos adversos. Com a caracterização físico-química favorável e a estabilidade das formulações, o bigel representa uma nova abordagem no tratamento da LTA, aliando eficácia e segurança. Ressalta-se que a formulação obtida será utilizada no estudo in vivo em modelo animal para investigação da LTA.