Desenvolvimento tecnológico de comprimidos de pilocarpina para tratamento da xerostomia
Secura bucal, Síndrome de Sjögren, Agonista colinérgico, Xerostomia, Pós-radiação.
A xerostomia, ou secura bucal, tem diversas etiologias, dentre elas destacam-se síndromes autoimunes, radioterapias, além da reação adversa ao uso de fármacos anticolinérgicos, podendo ocasionar danos severos e irreversíveis, com redução da qualidade de vida de muitos pacientes. A conhecida atividade colinérgica da pilocarpina vem sendo explorada de diversas formas ao longo dos anos, resultando no desenvolvimento de diversas formulações farmacêuticas patenteadas, como chicletes, soluções para gargarejo, sprays, etc, entretanto, a única apresentação disponível no mercado é representada pelos comprimidos orais, marca Salagen®, comercializada pela Eisai Inc. e aprovada pelo FDA em 1994. Esse produto, entretanto, não é comercializado no Brasil, o que resulta em baixa assistência a pacientes acometidos por essa sintomatologia. O desenvolvimento de produtos similares, com aplicação de excipientes regionais, além da necessidade de um tratamento de fácil adesão, aquisição e com redução de efeitos colaterais, nortearam o desenvolvimento do trabalho. Para tanto, foram realizados estudos de pré-formulação, desenvolvimento e controle de qualidade em formulações de comprimidos orais e mucoadesivos, contendo, respectivamente, os excipientes regionais, mesocarpo de babaçu (Orbignia sp.) e quitosana. A formulação oral foi avaliada quanto aos padrões de similaridade com o medicamento de referência (Salagen®), utilizando a ferramenta estatística de planejamento fatorial 23 para comparação dos resultados de peso médio, friabilidade, teor, dureza e tempo de desintegração entre os excipientes (celulose e babaçu), a via de compressão (direta ou indireta) e a porcentagem de lubrificantes (0,5 e 1,5%). Dessa forma, os comprimidos de babaçu, feitos por via úmida, obtiveram qualidade semelhante aos comprimidos de celulose, tornando a formulação viável para produção em larga escala. Já os comprimidos mucoadesivos, formulações inovadoras desenvolvidas com o objetivo de redução de efeitos colaterais e obtenção de efeito terapêutico mais rapidamente, foram avaliados quanto a peso médio, dureza, friabilidade, pH de superfície, porcentagem de intumescimento e tempo de mucoadesão, selecionando a formulação mais adequada para a via escolhida. O excipiente regional, quitosana, foi avaliado isoladamente e em proporções de 3:1, 2:2 e 1:3 com os polímeros conhecidamente mucoadesivos, celulose microcristalina (CMC) e carbopol (CBPOL). Todas as formulações contendo CMC apresentaram-se compatíveis com o pH fisiológico de 6,8 porém, devido a alta hidrofilicidade deste, apresentaram os maiores valores de friabilidade, menores durezas e menores tempos de mucoadesão, não passando de 3h, além de maiores variações na % de intumescimento. Comprimidos com carbopol, apesar de apresentarem-se levemente ácidos, variando de 3 a 5,8 com o aumento da proporção de quitosana, foram os que apresentaram melhores características de mucoadesividade, com aquele na proporção de 1:3 (CBPOL:Quitosana) com melhores resultados, incluindo 8h de mucoadesão, considerada ideal na redução da frequência de administração de novas doses. A partir desses resultados, a formulação mais adequada poderá ser avaliada quanto ao tempo de liberação ex vivo e permeação com células de Franz. Dessa forma, o estudo desenvolvido permitiu a obtenção de duas alternativas terapêuticas promissoras para o tratamento da xerostomia.