Diferentes métodos têm surgido com intuito de reduzir ou substituir a utilização de mamíferos em ensaios laboratoriais
pré-clínicos para avaliar princípios das propriedades toxicológicas e terapêuticas de protótipos a fármacos de origem
vegetal, animal, microbiana ou sintética e/ou seus constituintes moleculares, levando em consideração o melhor
aproveitamento do tempo, menor mão-de-obra, boa correlação custo-benefício e, principalmente, buscando bem-
estar animal. Dentre as plantas brasileiras, destaca-se o potencial citotóxico e antitumoral de Casearia sylvestris
Swartz (Salicaceae), a qual está na Relação Nacional de Plantas Medicinais de Interesse ao SUS (RENISUS). Assim,
esse estudo realizou uma revisão narrativa sobre os principais métodos laboratoriais alternativos aos mamíferos e
avaliou e a toxicidade de uma fração acetato de etila obtida a partir das folhas de Casearia sylvestris (FC) usando
análises in silico e métodos in vitro e in vivo alternativos aos mamíferos. Diante dos conflitos éticos para o uso de
animais em testes laboratoriais, principalmente, de mamíferos, diversos modelos in vitro de cultura de células animais,
de microorganismos e vegetais, chips que mimetizam o metabolismo orgânico e animais não pertecentes ao subfilo
Vertebrata considerados mais simples são hoje aprovados e, mundialmente, reconhecidos como potenciais
substitutos para avaliar o potencial genotóxico, mutagênico, embriotóxico, ecotoxicológico, hepatotóxico, a inibição
de enzimas, a capacidade de permeabilidade, a irritação cutânea/ocular, a farmacocinética e a farmacodinâmica de
protótipos candidatos a fármacos de origem natural, sintética ou semissintética. No entanto, a maioria desses testes
alternativos são somente ferramentas de triagem e muito da extrapolação dos resultados para os seres humanos
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ainda depende de análises posteriores em mamíferos, principalmente, em ratos e camundongos, como estabelecido
pelas agências locais de medicamentos que normatizam, acompanham e aprovam/reprovam a eficácia e a segurança
de novos insumos ativos e inativos. As análises in silico foram realizadas com molécula Casearina X, o componente
majoritário da FC, usando as ferramentas preADMET e SwissADME e SwissTargetPrediction. Quanto aos parâmetros
metabólicos e toxicogenéticos, analisou-se as respostas por CYPs, teste de Ames e potencial carcinogênico em
roedores. Em seguida foram avaliados a capacidade de inibição da enzima acetilcolinesterase (AChE) tipo VI de
Electrophorus electricus, a toxicidade em náuplios de Artemia salina e a ação embriotóxica/teratogênica da FC em
embriões de peixe zebra (Danio rerio). A molécula Caserina X atende a maioria dos critérios da rule-of-five, é
praticamente insolúvel em água, não respeita, em sua totalidade, os limites da região ótima para a molécula ser
considerada semelhante a fármaco para que se alcance boa biodisponibilidade oral, mas possui excelente absorção
intestinal (97,50 %). A predição in silico aponta que Caserina X se liga fortemente às proteínas plasmáticas (90.57
%), tem fraca capacidade para atravessar a BHE, é alvo ou inibidora de enzimas microssomais hepáticas da família
P450,pode ser inibidora da gp-P e tem grande potencialidade para inibir receptores/enzimas relacionados à inflamação
e proliferação celular. Na análise in vitro de AChE, a FC (0,01 a 1000 μg/mL) reduziu sua atividade (27 e 46 %, p <
0.05), embora o efeito não tenha sido dependente da concentração, Assim como nas análises in silico em
invertebrados, algas e peixes, a FC, foi muito tóxica contra náuplios de Artemia salina, embriotóxica/teratogênica para
embriões do peixe Danio rerio a partir das 24 h de exposição e revelou ação antimitótica e clastogênica em raízes de
Allium cepa.