Estima-se que 4,05% da população mundial possua um transtorno de ansiedade, equivalendo a 301 milhões de pessoas. A ansiedade torna-se patológica quando os comportamentos de evitação e o medo sustentam-se e são perturbadores, apesar de ocorrer ausência de perigo ou perigo potencial. Outro transtorno que afeta milhões de pessoas no mundo é a depressão, estima-se que 3,8% da população seja afetada. Devido a problemas relacionados ao uso dos ansiolíticos e antidepressivos, a farmacoterapia destes transtornos necessita de opções mais eficientes e com menos efeitos adversos. Uma alternativa estaria no uso de produtos naturais, como os alcalóides indólicos, conhecidos como psicodélicos clássicos. A Mimosa tenuiflora (Wild) Poir. (Jurema Preta), planta típica de áreas semiáridas do Brasil, possui alcalóides psicodélicos, como N, N-dimetiltriptamina (DMT), com atividades farmacológicas provavelmente mediadas por receptores serotoninérgicos, como o 5-HT 2A . Este trabalho teve como objetivo avaliar o
efeito ansiolítico e antidepressivo da fração alcaloídica II (FA II) proveniente do extrato da casca da raiz da M. tenuiflora em estudos in sílico e in vivo com camundongos C57BL/6. Nos estudos in sílico, foi utilizada a plataforma PreADMET. A Bufotenina (4.46175) e o DMT (8.23325) atravessam livremente a BHE. E a Yuremamina (0.771346) atravessa de forma moderada. A Bufotenina (5.66068), o DMT (56.9742) e a Yuremamina (14.3759) apresentaram média permeabilidade nas células Caco-2. Em relação à HIA, a Bufotenina (89.469891), o DMT (96.591263) e a Yuremamina (85.074898) apresentaram valores superiores a 70%, possuindo elevada absorção intestinal. Os valores de PPB da Bufotenina (12.548244) e do DMT (24.097811) demonstraram baixa ligação às proteínas plasmáticas. A Yuremamina (96.950305) possui elevada ligação às proteínas plasmáticas. A Bufotenina, o DMT e a Yuremamina não foram capazes de inibir a P-gp. A Bufotenina e o DMT são substratos fracos da CYP3A4 e não inibem essa enzima. A inibição da CYP3A4 pela Yuremamina pode interferir no metabolismo de outros fármacos metabolizados por essa enzima. A Bufotenina, o DMT e a Yuremamina apresentaram resultados negativos para o potencial de carcinogenicidade em camundongos. Na inibição do gene hERG, a Bufotenina e o DMT apresentaram risco médio, e a Yuremamina apresentou alto risco. A Bufotenina, DMT e Yuremamina obtiveram resultados negativos para a presença de mutagenicidade nas cepas TA1535 +S9, TA100 +S9 e TA100 -S9. Na cepa TA 1535 -S9, apenas a Yuremamina apresentou resultados positivos para mutagenicidade. Nos testes comportamentais, os resultados foram apresentados como média ± erro padrão da média (E.P.M.) e analisados por ANOVA, seguido pelo teste post hoc de Dunnett, utilizando o software GraphPad (versão 8.0). Considerou-se significância estatística para valores de p < 0,05. No TCLE, a FA II na dose de 9 mg/kg apresentou resultado significativo (p < 0,05) no número de entrada nos braços abertos, assim como a FA II nas doses de 3, 6 e 9 mg/kg aumentaram de maneira significativa (p < 0,001) o tempo de permanência dos camundongos nos braços abertos. No TCCE, ao reduzir o tempo de latência, os grupos tratados com FA II apresentaram efeito do tipo ansiolítico. No TCA, as três doses de FA II (3, 6 e 9 mg/kg) reduziram reduzir significativamente o comportamento de grooming (p < 0,05). No TSC, A FA II (3, 6 e 9 mg/kg) reduziu o tempo de imobilidade dos animais significativamente (p < 0,05). Os testes in sílico demonstraram resultados promissores em alguns parâmetros, como o de atravessar facilmente a BHE e possuírem boa absorção intestinal. Os testes comportamentais demonstraram que a FA II possui um efeito do tipo ansiolítico e antidepressivo. Provavelmente, este efeito é mediado pela ativação de receptores 5-HT 2A .