No contexto de avanço de propostas de revisão do papel do Estado na sociedade, como esforço para a superação da crise do capitalismo, fomentou-se a construção de um novo projeto ideológico mundial, constituído por estratégias políticas, econômicas e jurídicas que se materializaram em reformas gerenciais. Nesse cenário, reconfigurou-se o papel do Estado na promoção de políticas sociais, em um intenso movimento de descentralização que envolve parcerias com a esfera privada. A educação, enquanto parte integrante dessas políticas, vivencia um processo de privatização, mediante “parcerias” público-privadas decorrentes da adoção de sistemas de ensino, estes concebidos pelos gestores como soluções educacionais para o alcance da qualidade. Em Teresina, a Secretaria Municipal de Educação estabelece contrato com o Instituto Alfa e Beto voltado à aquisição de sistemas privados de ensino – o que tem afetado as condições de trabalho dos docentes da rede municipal. A presente pesquisa tem por objetivo analisar as convergências e/ou divergências existentes entre as proposições do Programa Alfa e Beto e o Estatuto e Plano de Cargos e Salários do Magistério da Rede Municipal de Educação de Teresina-PI, no que se refere às garantias e aos direitos para o exercício do labor docente. Apoiada em uma abordagem crítica sobre a temática em foco, este estudo fomenta a discussão sobre o contexto histórico-político e econômico que fundamenta a privatização das redes educacionais públicas brasileiras, a partir do diálogo com autores como Harvey (2011, 2017), Adrião et al. (2009, 2015), Ball e Yodell (2008), Robertson e Verger (2012), Ximenes (2015), Hill (2003), Paro (2012, 2012), entre outros. O percurso metodológico sustenta-se em um estudo de caso de abordagem mista. Entre as técnicas de coleta de dados estão a análise documental, a aplicação de questionários com professores que trabalham com o Programa em discussão, além de entrevistas semiestruturadas com 19 profissionais da educação, pertencentes a quatro Centros Municipais de Educação Infantil (CMEI) de Teresina-PI, como professoras, diretoras e coordenadoras pedagógicas, bem como dois técnicos da SEMEC. Por se tratar de um estudo de caso, os dados foram submetidos a uma análise sem perder de vista os estudos realizados em outros contextos sobre o objeto em foco. Entre os resultados, identificou-se que a implantação do Alfa e Beto, no âmbito da Educação Infantil, reflete um processo de privatização do tipo exógena e endógena, considerando as influências que exerce sobre a gestão dessa etapa de ensino, bem como sobre o corpo docente, no que tange aos aspectos técnicos e políticos do seu trabalho.