Na atualidade ainda permeia no imaginário social a representação negativa referente à mulher afrodescendente e aos “lugares ocupados” por ela na sociedade. Apesar desse pensamento, que às colocam como um dos grupos mais marginalizados da sociedade, em sua tripla acepção: gênero-raça-classe, há aquelas que estão conseguindo superar os desafios e alcançar alguma mobilidade social, sucesso. Com a pesquisa “Histórias que se cruzam na EJA: as Trajetórias de Vida de Mulheres Afrodescendentes de Sucesso Educacional” problematizamos como duas mulheres afrodescendentes, participantes da pesquisa, descrevem e interpretam as suas trajetórias educacionais e passagens pela EJA, e explica quais as implicações disso, em suas formas de organização da vida e no enfrentamento das suas dificuldades socioculturais, baseadas nos fatores de gênero-raça-classe. A metodologia que compreendeu uma abordagem qualitativa, adotou elementos das Metodologias Feministas, especificamente o Feminismo Interseccional de cunho afrodescendente, e teve como método de investigação as Histórias de Vida, utilizando entrevistas e o memorial de formação. Para análise dos dados desenvolvidos a partir das informações da pesquisa, nos inspiramos na Análise de Conteúdo. As discussões sobre o objeto de estudo desta pesquisa foram feitas a partir das contribuições de autoras/es que nos ajudam a repensar as trajetórias de vida e educacionais de mulheres afrodescendentes de sucesso, bem como o itinerário dessas mulheres na EJA, a citar: Boakari (2010; 2015), Martins (2013), Reis (2017), Santana (2013), Certeau (1994), Arroyo (2014; 2017), Capucho (2012), Branco (2015), Carreira (2014), dentre outras/os. Como resultados da pesquisa, evidenciamos que o Brasil está conseguindo reduzir algumas de suas desigualdades históricas por meio do acesso EJA. Há lições nas trajetórias educativas descritas, que nos mostram como essas mulheres utilizaram o direito a educação, como ferramenta para superar algumas dificuldades impostas pela condição de ser mulher, afrodescendente e pobre no Brasil. Essas mulheres afrodescendentes, por meio de inúmeras táticas subverteram a lógica e ocuparam lugares que não eram comuns a elas. Assim, se faz necessário dá visibilidade à essas e outras histórias de mulheres brasileiras de origem africana, que estão conseguindo chegar à universidade e concluir um curso superior, por meio do acesso à EJA - esta encarada neste estudo como uma política de ação afirmativa - incentivando a construção de novos caminhos para um futuro menos desigual e de oportunidades mais igualitárias para todos/as.