Na montagem de um desfile de moda afro existe mais do que a idealização e construção das peças e acessórios para ir à passarela. Um curso de extensão com discentes do Curso Superior em Tecnologia do Design de Moda do Instituto Federal do Piauí (IFPI), Campus Teresina Zona Sul (CTZS) buscou tecer narrativas com fios de memórias e vivências, a fim de que as/os partícipes se percebessem enquanto corpo social e ontológico a partir de suas experiências. Assim, com o objetivo de compreender as aprendizagens (des)construídas com relação à afrodescendência a partir desse curso de extensão - “Ateliê de Práticas Educativas: o que se aprende com um desfile de moda afro?”, desenvolvido nas dependências do Memorial Esperança Garcia, de julho a novembro de 2019, propusemos essa pesquisa em doutoramento. As narrativas anteriores ao curso de extensão das/dos partícipes direcionaram ao desconhecimento da diferença cultural, social e econômica existente entre os diversos países da África, um “recorte” que expressa a estruturação do tecido social brasileiro, construído a partir da roupagem e máscaras da negação, invisibilidade e violência epistêmica. As atividades foram programadas com o intuito de desmistificar essa história única e mostrar a realidade das diversidades de ser/fazer no continente africano a partir de uma ancestralidade afrodescendente. Trata-se de uma pesquisa de abordagem qualitativa inspirada em Esteban (2010) e Lins (2017), com 19 (dezenove) partícipes. Como forma de viabilizar a análise das respostas aos questionamentos, fizemos uso de um software de análise textual-IRAMUTEQ. Durante a pesquisa, por meio das análises das peças e acessórios criados para o desfile, das anotações em cadernos memoriais das/dos estudantes, em anotações do caderno memorial da coordenadora do curso e de questionamentos feitos às/aos discentes do curso, as/os partícipes dessa pesquisa, pontuamos o crescimento no que tange ao conhecimento sobre africanidades e afrodescendência e o que isso acrescenta na formação de um designer mais crítico. Nos amparamos em autoras/es como: Munanga (2009); Silva (2008; 2016), Boakari, Machado e Silva (2014); Boakari e Silva (2020); Adichie (2010); Akotirene (2019); Almeida (2019); Ribeiro (2019); Carneiro (2005); Kilomba (2019); Gonzales (1984); Quijano (2002); Fanon (1968; 2008) entre outras/outros, para tratar de colonialidade e africanidades. Em Brandão (2007); Freire (1979; 1987; 1989; 1992; 1996); Hooks (2013); Manacorda (2010); Nosella (2007) e outras/os para tratar de educação e prática educativa. Ainda dialogamos com Sabrá (2009) para tratar de modelagem; Vilaseca (2011) e Queiroz (2014) para falar de desfile e algumas/uns outras/outros para tratar de Moda. O trabalho aponta para um crescimento do conhecimento dessas/desses discentes sobre essa herança cultural deixada por nossos ancestrais africanos, bem como demonstra o racismo como mecanismo de estruturação desse país. O conhecimento adquirido no percurso desta pesquisa afetou esses futuros designers de moda, na perspectiva de se tornarem pessoas mais críticas e comprometidas com o seu fazer.